A tragédia de Blumenau (SC) é mais do que um alerta. É um pedido de socorro do nosso sistema educacional. Dez dias depois de um aluno de 13 anos matar uma professora a facadas, a invasão à creche e o assassinato de quatro crianças indefesas — de 4 a 7 anos, todos filhos únicos —mostram que se faz necessário uma guinada na forma da sociedade discutir e combater a violência escolar. É preciso que todo o país enfrente o problema com urgência.
Homicídio em ambiente escolar é, por si só, um tema delicado, muito maior do que uma política educacional. O país registrou, nas últimas duas décadas, 41 assassinatos em unidades estudantis —mais do que nos 50 anos anteriores. São diversos os componentes existentes nessas tragédias. É possível enumerar alguns: a disseminação do ódio; o culto à violência; e o descaso com a educação. Mas, infelizmente, os temas só são abordados quando se ocorre uma tragédia. E isso é preciso mudar.
Não dá mais para esperar repetições de Blumenau, Suzano, Aracruz, Realengo, Vila Sônia. Vejo como mais do que essencial um olhar especial ao que ocorre nas redes sociais. Temos percebido nos últimos casos um padrão em comum: o criminoso anuncia no mundo virtual o que vai fazer no mundo real. É necessário que os algoritmos das plataformas estejam prontos para detectar, principalmente nos perfis fechados, qualquer comportamento fora do padrão. Para isso, é necessário uma regulamentação do tema.
Há dois anos, o FBI monitorou conversas na internet de um jovem de 19 anos que planejava atacar escolas em São Paulo. Preso, ele admitiu — sem nenhum constrangimento, segundo os delegados — o desejo de praticar uma série de assassinatos. Se não fosse o alerta da polícia dos EUA, no estilo "ei, prende aí", o que poderia ter ocorrido? Não é possível replicar a investigação preventiva aqui? O que falta: equipamentos, uma mudança na legislação?
Educadores alertam que o ambiente escolar enfrenta desafios de um mundo totalmente diferente do que foi pensado. Em 20 anos, tivemos uma absurda evolução tecnológica. As crianças e adolescentes de hoje são nativos digitais, ao contrário da maioria dos pais e educadores. Crescem em um ambiente totalmente conectado, mas sujeito a influência de grupos extremistas, adeptos do neonazismo, da misoginia, da adoração a armas. Ou enfrentamos essas chagas ou vamos continuar a chorar a morte de nossas crianças.