Jornal Correio Braziliense

Opinião

Visão do Correio: Depende de todos conter a violência

A violência latente nos seres humanos foi despertada e se transformou em fúria, dizimando famílias e comprometendo a finalidade de instituições, como as escolas, e elevando o grau de descrédito em relação aos órgãos de Estado

Em menos de 15 dias, duas escolas foram vítimas de ataques mortais. Ontem, um homem, de 25 anos, matou quatro crianças e feriu outras três de uma creche de Blumenau (SC). O episódio anterior, com uma morte e três feridos, ocorreu em um colégio da Vila Sônia, na zona oeste de São Paulo.

Os dois casos se somam à triste estatística de pelo menos 10 massacres foram registrados nos últimos 20 anos, segundo o Instituto Sou da Paz. O espaço de tempo entre um episódio e outro pode ser um fatores que, até então, não despertou o poder público nem as instituições para uma profunda discussão sobre medidas preventivas para evitar a repetição das tragédias.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que fortalecerá o monitoramento da internet. Há consenso de que as redes sociais têm sido canal de disseminação de ódio e de estímulo para atos desatinados, que descambam em tragédias ou danos irreversíveis, como a morte de pessoas em todas as faixas etárias.

A pandemia de covid-19 não foi a única a causar transtornos psicossociais nos brasileiros. Os estímulos vieram de várias fontes. A violência latente nos seres humanos foi despertada e se transformou em fúria, dizimando famílias e comprometendo a finalidade de instituições, como as escolas, e elevando o grau de descrédito em relação aos órgãos de Estado.

Especialistas asseguram que os avanços tecnológicos bem poderiam garantir mecanismos de alerta ante qualquer anormalidade em ambientes como o escolar, shopping centers e outros pontos de aglomeração de pessoas. Hoje, há recursos disponíveis que podem dar uma pronta resposta a situações críticas, por meio de conexões eletrônicas com os centros de segurança pública.

No caso específico, programas de treinamentos — senão para todos, pelo menos às equipes — deveriam ser desenvolvidos para que a comunidade escolar saiba como se comportar ou agir ante um ataque de violência. O fortalecimento do controle do acesso às dependências das instituições é outra medida de precaução que pode ser adotada.

Diante do elevado aumento da violência, a responsabilidade por pacificar a sociedade não é exclusiva do poder público. O enfrentamento do caos na segurança de todos exige que as forças vivas da sociedade se unam às autoridades para identificar as fragilidades das políticas públicas, as demandas dos cidadãos, comunidades e instituições para a construção e desenvolvimento de ações contra todas as expressões da barbárie.

As escolas, hoje no centro das atenções, devem considerar e levar a sério a educação para a cultura de paz. As mudanças almejadas pela maioria dos brasileiros impõem uma revisão das atitudes individuais de cada cidadão.