A boa política não tem limites. Nem mesmo de idade. Na semana que passou, Brasília registrou momentos de plena atividade democrática exercida por dois políticos de diferentes gerações e espectros ideológicos. De um lado, José Sarney, 93 anos, o ex-presidente mais longevo da história do Brasil. Do outro, a jovem Rannya Oliveira de Freitas, 21 anos, a vereadora mais jovem do Nordeste, eleita aos 18 anos.
Sarney abriu a casa para 500 convidados, de partidos políticos e correntes de pensamento diferentes, aliados ou adversários entre si, que compartilharam o mesmo espaço para celebrar o seu aniversário. Pode-se dizer que foi uma festa democrática, que coroa seu jeito de fazer política, ignorando o abismo da polarização.
Ainda que se diga aposentado, Sarney deu provas de que continua exercendo não apenas seu poder de influência, mas também a arte de criar pontes e transformar o diálogo em eventual caminho para reduzir o clima de ódio e animosidade, que tem levado a política a um modus operandi baseado em hostilidade e jogo sujo, como as campanhas de fake news.
A pernambucana Rannya esteve em Brasília para trazer demandas do município pelo qual foi eleita, Sanharó, no agreste pernambucano. Ela participou da fundação da Frente Jovem Parlamentar — grupo que reúne 98 vereadores e vereadoras de Pernambuco para compartilhamento de ideias e desafios na luta pelas pautas do estado. Defende o protagonismo da juventude nas pautas e uma relação próxima entre políticos e população.
Sarney e Rannya mostram que o fazer democrático inclui conversa, além de conchavo. Inclui presença e consistência que extrapolam o universo virtual de polaridade e desinformação. Inclui representatividade e o simbolismo que fica após o mandato. São extremos que nos ensinam que a política é diária, dialógica e está presente em todos os lugares, mesmo fora do ambiente partidário e legislativo.
A presença dos dois é uma prova viva que existe política além das bolhas as quais nos acostumamos e aprisionamos. Romper com este padrão, de embalar a política em um modelo de ideias únicas e pré-fabricadas, é urgente.
Precisamos colher ensinamentos e colocar a política nas rodas de conversas, na mesa de casa, nos bares da esquina. Mas do jeito certo: sem ódio, com abertura para escutar o contraditório, aprender com o diferente. É assim que a gente constrói argumentos e muda o que tiver que mudar.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br