O filósofo Herbert Marshall McLuhan foi um visionário. Há 61 anos, cunhou a expressão profética "aldeia global" — uma alusão a como as novas tecnologias encurtariam as distâncias e tornariam o planeta interligado. O conceito de McLuhan é percebido, de forma empírica, no modo como se pode fazer jornalismo internacional. Nessa seara desde o ano 2000, tenho a convicção de que a teoria do canadense tornou a cobertura mais dinâmica e menos onerosa, ainda que o olho no olho seja uma experiência absolutamente importante para o repórter. Quando isso não é possível, por conta da distância, as redes sociais desempenham papel crucial na busca pela fonte, na reportagem com um teor mais humano. A aldeia global de McLuhan permite ao repórter informar o fato sem estar presente fisicamente.
Foi assim quando, em 2007, localizei Farhatullah Babar, assessor da ex-premiê paquistanesa Benazir Bhutto, por meio do recém-criado Twitter. Depois de vários contatos, convenci-o a me colocar em contato com Bhutto, então em prisão domiciliar na cidade de Lahore. Muita insistência depois, ele me ajudou a falar, por telefone, com a política. Foi uma conversa franca, aberta, publicada no Correio Braziliense. A ex-primeira-ministra disse que não tinha medo da morte e atacou o então presidente Pervez Musharraf. Menos de dois meses depois, Bhutto morreu em um atentado.
O que dizer daquele 11 de fevereiro de 2011, quando a Praça Tahrir, no Cairo, fervilhava ao anúncio da renúncia do ditador Hosni Mubarak? Por meio do Twitter, localizei manifestantes e entrei em contato com eles. Depois, falamos ao telefone. Era possível escutar o frenesi dos jovens que ansiavam pela democracia em meio à Primavera Árabe. E a lista de nomes de líderes do grupo palestino Hamas, que apareceu em meu e-mail, após eu fazer um pedido despretensioso por contatos à Irmandade Muçulmana, usando o endereço que constava em seu site? Foram várias entrevistas com Fawzi Barhoum, Mushir El Masry e outros. Da mesma forma falei com Zabihullah Mujahid e com Suhail Shahin, porta-vozes do Talibã.
O mundo é uma grande aldeia. Com persistência, é possível colher relatos humanos e intensos. Com a ajuda da internet, também localizei, em um asilo de Stone Mountain (Geórgia, EUA), Theodore Dutch Van Kirk, o navegador do Enola Gay, o bombardeiro que lançou a bomba atômica sobre Hiroshima. Por 15 minutos, conversamos ao telefone, em 2005. O tripulante do voo da morte disse-me que a bomba salvou muitas vidas e garantiu que faria tudo de novo. Van Kirk morreu nove anos depois. Também pela internet, localizamos sobreviventes do campo de extermínio de Auschwitz e o fotógrafo que fez a famosa imagem de um homem desafiando um tanque na Praça da Paz Celestial. A aldeia global de McLuhan viabilizou o jornalismo em tempo real. Graças a ele, o mundo ficou pequeno.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br