As postagens são doídas: "Hoje, faz 13 anos que você desapareceu. Um pedaço de mim foi tirado", diz uma. "Meu menino, meu amor, sinto tanta saudade de você. Nada preenche esse vazio que sinto. A saudade é tanta, tanta", emociona-se outra. "27 anos de ausência, de dor, de uma angústia sufocante, de um luto inacabado, de uma dor que não tem remédios que pelo menos alivie, de um silêncio profundo. Tenho morrido um pouquinho a cada dia. Hoje, acordei com uma vontade de sair gritando aos quatro cantos do mundo, 'onde você está, minha filha?'", lamenta mais uma.
As mensagens são de mães de crianças e adolescentes desaparecidos. Elas usam as redes sociais para divulgar imagens dos filhos queridos, na perene esperança de que sejam localizados e voltem aos seus braços — a única forma de cessar o sofrimento e essas mulheres voltarem a ter uma vida plena. As plataformas também são um meio de tentarem extravasar a angústia. Como disse uma delas, "a dor de não saber onde está quem você ama é pior do que a certeza de saber que nunca vai voltar".
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Esse tormento se repete em milhares de lares pelo Brasil. Por ano, cerca de 22 mil meninos e meninas são declarados desaparecidos no país, segundo o Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (Sinalid), do Conselho Nacional do Ministério Público. Em muitos casos, são levados para adoções ilegais, trabalho escravo, pornografia e prostituição e até comércio de órgãos.
Para colaborar com investigações sobre os casos, o Congresso aprovou e o governo sancionou, na última sexta-feira, a Lei nº 14.548. O texto determina a inclusão imediata de novas informações sobre desaparecimento de meninos e meninas no Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos e no Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas — este ainda está em fase de execução.
Ante essa chaga que assola o país, toda iniciativa ajuda. É imprescindível, no entanto, que o governo implemente políticas públicas efetivas para o enfrentamento desse mal — na prevenção e no combate. São necessárias ações, de fato, para a busca desses desaparecidos. O Estado tem de sair da inércia diante de um problema de tamanha gravidade. Tem de jogar luz sobre esse tema, ainda sob o manto da invisibilidade para a maior parte da sociedade. Até quando fechará os olhos para a dor das vítimas e das famílias?
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