Imagine 450 mil pessoas vivendo em condições deploráveis, na mais absoluta miséria, confinados a uma área de 3,4 quilômetros quadrados. Em cada quarto, pelo menos nove pessoas se amontoavam. Lá dentro, os judeus conheceram a fome absoluta e a miséria, e eram atormentados pelos soldados nazistas, que entravam de surpresa nas ruas e becos e os levavam, sob a mira de armas, até o Umschlagplatz, o local de reunião para a deportação final.
Dali, embarcavam em trens de gado e partiam em uma viagem de 80km até o campo de extermínio de Treblinka. Quando desciam dos vagões, partiam, em fileira, até as câmaras de gás. Quem teve a chance de visitar o Yad Vashem, o Museu do Holocausto, em Jerusalém, tem uma pequena ideia do horror a que milhões de judeus foram submetidos e da ideologia totalitária e assassina que impregnava toda a sociedade.
É impossível não percorrer os ambientes de Yad Vashem sem se emocionar. Ver os uniformes de prisioneiros do campo de extermínio de Auschwitz, observar pertences de judeus assassinados no Holocausto, ler cartas de pais se despedindo para sempre dos filhos em fuga da Europa... No Gueto, morria-se de fome, de frio e de doenças. Tudo é intenso em Yad Vashem e leva a uma reflexão sobre como figuras autocráticas impõem o terror.
Há exatamente 80 anos, homens e mulheres confinados no Gueto de Varsóvia se revoltaram contra as forças de Adolf Hitler, em um gesto de coragem, sacrifício e grandeza. Centenas de milhares de judeus, infelizmente, não puderam ser ajudados. Foi o caso de Halina Birenbaum, 93 anos, que foi levada a Auschwitz durante a Grande Deportação, a partir do Gueto, e perdeu toda a família nas câmaras de gás. "O dia mais terrível vivi em Auschwitz. Vi trens lotados de judeus. Desciam pela rampa e sumiam. Vi um grande medo no olhar deles. Depois, a espessa fumaça escura. Era a carne deles queimando. Testemunhei isso todos os dias, durante quase dois anos", contou-me Halina, em entrevista publicada no Correio Braziliense, exatamente um ano atrás.
Hoje é dia de reverenciar os heróis do Gueto de Varsóvia e render um tributo à memória de milhões de judeus, incluindo 500 mil crianças, que foram assassinados pelos nazistas. Dia de repudiar a intolerância, o ódio, o racismo, a xenofobia, o totalitarismo, a imposição de ideologias calcadas no preconceito. Dia de a humanidade lutar para que as atrocidades do passado jamais se repitam. Dia de rejeitar aqueles que insistem em negar a "Shoah" ("Catástrofe", como os judeus chamam o Holocausto) e em relativizar o número de vítimas.
Hoje é dia de sonhar com uma sociedade justa, fraterna, em que todos sejam iguais, sob o comando de líderes humanistas e preocupados com o bem-estar social. Também é dia de não esquecer. Por Halina, por 6 milhões de judeus exterminados, pelos heróis do Gueto.
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