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Artigo: Flautista de Hamelim

 2023. Divirta se Mais.  Documentário Concerto cabeças- memória afetiva da cultura brasiliense, de Moacir Macedo
       -  (crédito:  Moacir Macedo/Divulgacao)
2023. Divirta se Mais. Documentário Concerto cabeças- memória afetiva da cultura brasiliense, de Moacir Macedo - (crédito: Moacir Macedo/Divulgacao)
postado em 18/04/2023 06:00

Repórter do Correio há três anos estava, lá, sentado no gramado da 311 Sul, ao lado de jovens cabeludos, na primeira edição do Concerto Cabeças, projeto seminal de ocupação dos espaços urbanos de Brasília, com manifestações artísticas. Não lembro do dia, nem do mês, mas me recordo que foi no segundo semestre de 1978.

O projeto teve como idealizador Neio Lúcio que, à época, apresentava a Feira de Música no Teatro Galpão — hoje, uma das unidades do Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul. Para a realização do Cabeças, ele teve a companhia dos poetas Nicolas Bher, Paulo Tovar, Luis Turiba, José Sóter e Luís Martins, nomes destaque da chamada Geração Mimeógrafo; os diretores de teatro Ary Pararraios e Hugo Rodas, os artistas plásticos Eurico Rocha e Wagner Hermuche e o cineasta Pedro Anísio.

Quando escrevi a primeira matéria sobre o projeto, para divulgar a segunda edição, fiz referência ao conto folclórico Flautista de Hamelin, escrito pelos Irmãos Grimm. Isso, em função do apelo exercido por aquele encontro de artistas, que revelou para a música brasiliense os cantores e compositores Renato Matos, Eduardo Rangel e Flávio Faria, os grupos Liga Tripa, Mel da Terra e Pessoal do Beijo, além do saudoso ator Aluísio Batata.

Em início de carreira, Cássia Eller e Oswaldo Montenegro também marcaram presença no Cabeças. O artista que viria a ser conhecido pelo codinome de Menestrel, tempos depois disse ao Correio: "Vivíamos o final da era hippie e a palavra que regia aquele encontro era a liberdade", mesmo sob a égide da ditadura militar. O poeta Nicolas Bher, recentemente, referiu-se ao Cabeças como o "nosso woodstoquizinho candango".

Tenho boas lembranças daquela época. Fiz muitas amizades no Cabeças. Algumas persistem até os dias atuais. Outras — por razões diversas — se perderam com o tempo. Mas muita coisa que ocorreu ali, tanto no improvisado palquinho, como na plateia, estão guardadas na minha memória afetiva.

Como o evento cresceu bastante, em 1980 foi transferido para a rampa acústica do Parque da Cidade — hoje desativada. Ali, a exemplo da origem, na 311 Sul, passou a ocorrer uma vez por mês, sempre nas tardes de domingo. Certa vez, sem que ele percebesse, flagrei Renato Russo assistindo a uma apresentação do guitarrista Toninho Maia, de quem ele era fã.

Numa entrevista que me concedeu, para divulgar o álbum Dois (o mais icônico da Legião Urbana), o líder, vocalista e principal compositor da banda — obviamente famoso e consagrado —, do nada e deixando implícita uma certa mágoa, saiu com essa: "Nunca me convidaram para cantar no Cabeças!".

Ative-me a essas reminiscências para falar do documentário Concerto Cabeças — Memória Afetiva da Cultura Brasiliense, dirigido por Moacir Macedo. Trata-se de precioso registro de uma época, vivida pelos brasilienses, que me traz muita saudade.

O lançamento do filme foi domingo último, no Espaço Cultural Renato Russo, como parte das comemorações dos 63 anos de Brasília. Como está disponível nas plataformas digitais, sugiro a quem viveu aquela experiência, e aos que, a partir do noticiário, tiveram o interesse despertado para o acontecimento, que o acesse.

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