MARIA ISABEL DE MORAES-PINTO - Infectologista do Exame Medicina Diagnóstica
Quatro pandemias de gripe, no século passado, foram causadas pelo vírus influenza. Com frequentes mutações em seu genoma, esse vírus preocupa a comunidade científica, as organizações e os gestores de saúde em nível global porque a doença continua sendo uma das principais ameaças pandêmicas, juntamente com o surgimento de outras variantes de coronavírus.
O vírus influenza se caracteriza pela alta transmissibilidade e pela capacidade de mutação, principalmente os tipos A e B, que têm maior morbidade e letalidade. As vacinas têm desempenhado um papel fundamental, evitando os quadros graves e as complicações da infecção. Permitem também respostas rápidas no combate aos surtos sazonais e em situações de pandemia, como na de influenza H1N1 em 2009 e 2010.
No entanto, a produção anual do imunizante contra influenza é um processo complexo, que envolve o manejo de muitas variáveis, incluindo a variabilidade antigênica viral, a necessidade de vacinas multivalentes, bem como os esforços contínuos para aumentar a eficácia e a velocidade de fabricação.
Por isso, todos os anos, a composição da vacina é revisada, com a finalidade de adequá-la aos tipos de vírus que mais circulam nos hemisférios Norte e Sul. No exemplo mais recente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, em setembro de 2022, as recomendações para a fabricação da vacina influenza para 2023.
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Com isso, as cepas da vacina quadrivalente deste ano, no Hemisfério Sul, disponíveis em laboratórios privados, são: A/Sydney/5/2021 (H1N1)pdm09; A/Darwin/9/2021 (H3N2); B/Austria/1359417/2021(Victoria); e B/Phuket/3073/2013 (Yamagata). No SUS, as vacinas influenza trivalentes utilizadas no Brasil apresentam três tipos de cepas de vírus em combinação: A/Sydney/5/2021 (H1N1)pdm09; A/Darwin/9/2021 (H3N2); e B/Áustria/02/1359417/2021 (linhagem B/Victoria).
É sabido que podem ocorrer desde formas mais brandas de influenza até quadros graves e potencialmente fatais. Embora as manifestações graves sejam mais frequentes em crianças, idosos, gestantes e portadores de comorbidades, qualquer pessoa pode desenvolver a doença com necessidade de internação hospitalar.
Na maioria das pessoas, o início dos sintomas respiratórios e de mialgia (dores musculares), com ou sem febre, é abrupto, e a recuperação se dá em uma semana aproximadamente. No entanto, alguns pacientes podem apresentar complicações como a síndrome respiratória aguda grave (Srag).
As vacinas contra influenza reduzem a morbidade e a mortalidade em todas as idades e grupos de risco. Entretanto, a eficácia vacinal depende da idade dos vacinados, da correspondência entre a cepa incluída na composição da vacina e o vírus circulante, bem como do histórico de vacinação anterior da pessoa.
Além do impacto sobre o sistema de saúde, já que muitas pessoas infectadas acabam precisando de cuidados médicos, o vírus influenza provoca um custo econômico. Mesmo em suas formas brandas, a gripe leva a afastamentos das atividades diárias e a faltas ao trabalho e à escola.
A humanidade vem suportando pesados fardos por causa de pandemias. O conhecimento adquirido com o manejo da covid-19 mostrou que são necessários grandes investimentos em pesquisas, de modo a otimizar o rápido desenvolvimento de vacinas em situação de risco de disseminação de vírus com alta letalidade.
Manter uma infraestrutura de produção de vacinas que possa controlar pandemias e seja comercialmente sustentável representa uma resposta necessária também contra novas variantes do vírus influenza. Porém, a vacinação precisa ser entendida como necessária por toda a população. Não adianta ter a vacina à disposição se as pessoas não se imunizarem. A dura lição que a pandemia por covid-19 nos ensinou é que é melhor prevenir doenças em pessoas saudáveis do que fazer um esforço urgente para tratar populações doentes.
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