Há 100 dias, Brasília estava em clima de festa. A democracia havia vencido, após a nuvem carregada de um suposto golpe de Estado. O 30 de outubro acirrado e turbulento trouxe um resultado que refletiu a polarização de todo o processo eleitoral — comemorado por uma parcela da população brasileira que desejava a retomada de uma política voltada para o social e questionado por outro alto contingente que insistia na permanência do grupo que estava no poder.
O Brasil seguiu dividido e o descontentamento dos perdedores nas urnas gerou revolta, protestos e manifestações antidemocráticas. Mas, até então, tudo parecia pequeno demais para afetar o sentimento de júbilo dos que levaram a melhor. E, no primeiro dia de 2023, a capital do país tornou-se o cenário de uma gigantesca celebração popular, dessas que ganham destaque nos livros de História.
A alegria que se apoderou de Brasília na virada do ano foi boa, e durou pouco. No oitavo dia, a cidade foi ocupada por centenas de ditos manifestantes patriotas que, em nome de uma democracia distorcida, vandalizaram a Esplanada dos Ministérios, invadiram prédios públicos, depredaram o patrimônio e gargalharam da cara dos poderes constituídos. Um terror generalizado. O mundo assistiu, estarrecido, ao circo dos horrores, caracterizado de verde-amarelo, que as emissoras de televisão exibiam.
Ironicamente, entretanto, apesar do prejuízo moral e material, de certa forma, os atos extremistas tiveram o efeito oposto. O atual governo federal não foi atingido como esperavam que seria. Comemorando hoje seu centésimo dia desde a volta triunfal ao Palácio do Planalto, o presidente Lula nitidamente não sobrevoa um céu de brigadeiro. Sabia-se que não seria fácil, e não tem sido. Muito trabalho a ser feito, principalmente na esfera política que envolve o Legislativo, mas, aparentemente, há mais a comemorar do que se queixar.
Essa não é, entretanto, a realidade da oposição. Como um tiro que sai pela culatra, quem acabou levando a pior foram justamente os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, determinou a exoneração sumária do então secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, que foi ministro de Bolsonaro até 31 de dezembro e teve sua nomeação local bastante contestada. Acusado de omissão e conivência, o delegado da Polícia Federal está preso desde 14 de janeiro.
Por sua vez, o próprio Ibaneis, precisou acatar a determinação federal de uma intervenção na segurança pública do DF. Como se não bastasse, naquela mesma noite interminável de domingo, o chefe do Executivo local foi afastado do cargo, por 90 dias, pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, sob a mesma acusação. Em 15 de março, Rocha retornou ao posto — para o qual foi reeleito em primeiro turno —, declarando que sua inocência estava provada e a justiça havia sido feita. Agora, porém, completando 100 dias da sua segunda posse, tem um robusto desafio pela frente: recuperar os 66 dias perdidos.
Que venham os próximos capítulos.
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