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EDITORIAL

Visão do Correio: O dinheiro que falta para o ajuste fiscal

pri-0507-brasiliadf Brasíliadf BSBDF bomba fiscal -  (crédito: Caio Gomez)
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postado em 05/04/2023 06:00

A apresentação da nova regra fiscal pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, agradou a investidores e empresários, mas deixou em todos uma dúvida. Se o governo assume o compromisso de controlar os gastos públicos a partir de uma trava que limita a expansão das despesas a 70% do avanço dos investimentos no ano anterior, com esse gatilho caindo para 50% em caso de descumprimento da meta, nos cálculos futuros das contas públicas, ficou a dúvida sobre como o governo conseguirá agir do ponto de vista da arrecadação de impostos e outras receitas para ter o dinheiro suficiente para zerar o deficit primário em 2024.

Na segunda-feira, o próprio ministro detalhou que serão necessários de R$ 100 bilhões a R$ 150 bilhões para que o resultado primário das contas públicas seja equilibrado a partir do ano que vem. Apresentou ainda propostas que devem ser encaminhadas ao Congresso para cobrar impostos de sites de apostas e de empresas de e-commerce chinesas. A estimativa é de arrecadação de R$ 15 bilhões apenas com as apostas e entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões com as vendas chinesas no país. Ainda assim, a conta não fecha, pois são pouco mais de R$ 30 bilhões, faltando entre R$ 70 bilhões e R$ 120 bilhões para se chegar ao valor necessário para zerar o deficit.

O ministro defende que esses recursos venham dos incentivos, hoje, concedidos a uma série de empresas de diversos setores e que somam cerca de R$ 400 bilhões. Conseguindo reduzir esses incentivos em um quarto, o governo conseguiria R$ 100 bilhões. Mas esse dinheiro não existe na prática, e o governo precisa do Congresso para aprovar uma redução de incentivos maior do que a prevista no Projeto de Lei 3.203/21, de 2021, que prevê a redução de incentivos a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2026, o que significa R$ 22,4 bilhões a valores de 2021.

Com esse montante, a conta ainda não fecha e serão necessários mais cortes de incentivos. Se assim for, é preciso que governo e empresas cheguem a um ponto de convergência para que os incentivos sejam efetivamente destinados à criação de empregos e ao desenvolvimento tecnológico, e não apenas servindo para cobrir perdas na margem de lucro em momentos de crise. É preciso buscar eficiência no uso dos recursos públicos, seja para gerir a máquina pública, seja para fomentar a economia. É indispensável que o governo busque dar maior transparência para as despesas públicas, tanto de custeio quanto de desembolsos e renúncias fiscais, para que obtenha maior eficiência e, consequentemente, melhor resultado.

A ministra Simone Tebet falou em melhorar o gasto público. Depois de três meses de governo, é momento não só de falar em mais recursos para o caixa do governo sem nenhuma contrapartida do ponto de vista das despesas de custeio da máquina pública. Onde e como é possível melhorar o gasto público, a fim de buscar eficiência na administração pública. Pior do que gastar é gastar mal. E o Brasil faz dessa forma há muito tempo.

A outra ponta que pode representar recursos adicionais para o governo vem das taxas de juros, que oneram a dívida pública e o fluxo de caixa. Apenas com a amortização de juros, o país desembolsou o total de R$ 586 bilhões em 2022. Caso o Banco Central mantenha a taxa de juros em 13,75% até o fim do ano, a previsão é de que os gastos com juros girem em torno de R$ 800 bilhões. Talvez daí venha a insistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em criticar a política monetária do Banco Central. Os juros altos sufocam a economia e podem reduzir a arrecadação, sendo que, ao mesmo tempo, elevam o desembolso do Tesouro com a rolagem da dívida pública. A conta do ajuste não fecha e o governo precisará mais do que simplesmente apostar no aumento da arrecadação, mas em reduzir os gastos da máquina pública.

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