As projeções para crescimento da economia neste ano não são das melhores: estão em torno de 0,9%. Não à toa, agentes do setor produtivo têm verbalizado toda a preocupação com a necessidade de medidas efetivas para que a atividade recupere o fôlego e, enfim, o país consiga sair da armadilha da quase estagnação. Sem um avanço efetivo do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 3% ano, não é possível se pensar em redução das desigualdades que tanto afligem a sociedade. Programas sociais são importantes para retirar da vulnerabilidade a parcela mais pobre da população, mas, efetivamente, o que melhora a condição de vida das pessoas é o incremento da produção e do consumo. Quando a economia engrena, o desemprego cai e a renda cresce. Dá-se início a um ciclo de prosperidade.
Há pelo menos uma década, o Brasil não sabe o que é crescimento sustentado. Durante esse período, na média, o PIB saltou 0,6% ao ano, taxa insuficiente para a inclusão dos mais pobres no mercado de consumo. Portanto, está na hora de o país fazer o dever de casa para que o pessimismo seja deixado de lado e a roda da economia gire com mais força. O governo, sabe-se, tem tentado arrumar a casa para que as bases do avanço da atividade e do consumo não sejam apenas para um voo de galinha. Experimentos recentes criaram falsas expectativas, pois colheu-se somente frustração. Portanto, a hora é de ações consistentes para que a confiança volte, os projetos de investimentos saiam das gavetas e a sociedade seja a grande beneficiada.
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Os desafios para tirar o Brasil da letargia são muitos. A inflação vem caindo, mas ainda está longe do centro da meta, de 3,25% ao ano. Com o custo de vida elevado, a taxa básica de juros (Selic) se mantém há meses em 13,75% anuais, travando o crédito, que é fundamental para a produção e o consumo. Sem renda suficiente, as famílias se endividam cada vez mais e caem na inadimplência. Para piorar, gigantes do varejo enfrentam sérias restrições de caixa, indicando uma possível crise no setor, que tem peso significativo no PIB. Do lado governo, ainda há muito a ser explicado sobre o novo arcabouço fiscal, que merece todo apoio, e é preciso acelerar a reforma tributária para aliviar o ambiente de negócios.
Nenhuma das atuais travas da economia é novidade. O país convive com muitas delas há décadas e o que mais aflige os agentes produtivos é que o enfrentamento de tais questões não ocorre de forma coordenada. Há, muitas vezes, falta de vontade política. Está evidente, contudo, que a população, em especial, a mais carente, cansou-se de paliativos. Cobra, e com razão, mecanismos que efetivamente levem o Brasil para um outro patamar. Os eleitos pelo voto devem se atentar que as fragilidades da atividade econômica deixam sequelas severas. Ainda que o acerto de contas com os eleitores ocorra de quatro em quatro anos, ele vem.
As dificuldades na economia não são exclusividade do Brasil. Estados Unidos, Europa e mesmo a China enfrentam problemas para recolocar a atividade nos trilhos, depois de três anos de pandemia do novo coronavírus. A desestruturação das cadeias de suprimento e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia deixaram sequelas pesadas. A vantagem brasileira é que, se a credibilidade da política econômica voltar, a melhora do país tenderá a ser mais rápida. Não se descarta, inclusive, a possibilidade de o PIB crescer mais do que o previsto neste ano e já iniciar 2024 com um ritmo de expansão da ordem de 3%.
Está nas mãos do governo e do Congresso pavimentar esse caminho virtuoso. Divergências políticas estão na base da democracia e fazem muito bem. No entanto, não se pode permitir que questões ideológicas extremas se sobreponham à vontade popular, que quer um país mais justo, com oportunidades para todos. O futuro está logo ali. Mas a que velocidade com que se chegará nele dependerá das escolhas que forem feitas agora.
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