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OPINIÃO

Visão do Correio: Suspense nos EUA com caso Trump

Nesta foto de arquivo tirada em 26 de fevereiro de 2022, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, fala na Conferência de Ação Política Conservadora 2022        -  (crédito: CHANDAN KHANNA / AFP)
Nesta foto de arquivo tirada em 26 de fevereiro de 2022, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, fala na Conferência de Ação Política Conservadora 2022 - (crédito: CHANDAN KHANNA / AFP)
postado em 03/04/2023 06:00

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, um ex-presidente do país pode ser preso em breve. O republicano Donald Trump, que comandou a Casa Branca entre 2017 e 2021, se tornou réu na última quinta-feira e vai se apresentar ao tribunal de Nova York amanhã (terça-feira), quando poderá ser obrigado a cumprir uma prisão provisória enquanto é julgado. Trump é acusado de subornar uma ex-atriz pornô, que teria recebido US$ 130 mil para não revelar um caso extraconjugal entre os dois.

Stephanie Clifford, conhecida como Stormy Daniels, disse ter se envolvido com o ex-presidente em 2006, e aceitado um acordo em 2016, pouco antes de Trump iniciar a campanha que culminaria com a vitória sobre Hillary Clinton. Esse tipo de pagamento, por si só, não é crime. O problema é que o dinheiro teria sido justificado como honorários advocatícios, o que configura uma falsificação de registro comercial. E, no país do capitalismo, a fraude fiscal é o tipo de crime imperdoável.

A situação se complica ainda mais, já que, além da própria atriz pornô, a principal testemunha da acusação é justamente Michael Cohen, o ex-advogado que intermediou o pagamento dos US$ 130 mil. O promotor de Manhattan, Alvin Bragg, trabalhou por cinco anos no caso, até juntar provas robustas que permitissem que Trump fosse indiciado pelo crime.

A decisão de prender Trump cabe ao tribunal, que pode decidir que o ex-presidente — que já está em pré-campanha pelas prévias do Partido Republicano para as eleições de 2024 — não representa ameaça e nem tem perigo de fugir do país e, assim, deixá-lo sair solto da Corte. Se for detido, a defesa já entrou em acordo com a Promotoria de Manhattan para que ele não seja algemado ao ser levado — é regra que todos os presos provisórios nos EUA saiam portando algemas.

Para os brasileiros, que já viram dois ex-presidentes e vários ex-governadores serem presos, a cena não seria novidade. Mas nos Estados Unidos, a situação inédita deixa o país em suspense. O noticiário está dominado pelo assunto, com analistas políticos e criminais avaliando a primeira vez de um ex-presidente enfrentando acusações criminais. Quando ocorreu o indiciamento, apresentadores da Fox News, canal de TV alinhado a Trump, chegaram a tomar um susto no ar.

As pré-campanhas para as primárias dos Republicanos também estão segurando a respiração (do lado Democrata, existe a expectativa de que Joe Biden tente a reeleição). Os vários inimigos que Trump fez no partido — o principal dele é DeSantis, governador da Flórida, e que está ávido para ser candidato — já atuam para tirar o ex-presidente do jogo, antes que ele use a imagem de vítima e de perseguido político para atropelar a oposição interna e emergir como candidato em 2024, caso não seja impedido de concorrer.

Se for condenado, Trump pode pegar até quatro anos de prisão. O maior risco para ele, porém, é que o julgamento abra a caixa de Pandora dos anos na Casa Branca. Ao longo deste tempo, Trump transformou diversos aliados, como advogados, sócios e amigos, em inimigos que estão ansiosos para complicar a vida do ex-presidente. Vale lembrar ainda que ele está sendo investigado na esfera federal, pelo Departamento de Justiça, por ocultar documentos após deixar a presidência e por tentar interferir nas eleições de 2020, quando pediu para que a comissão eleitoral do estado da Georgia "achasse mais uns votos", e por envolvimento na invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021.

Referência mundial, os EUA sabem que os desdobramentos do caso vão reverberar não só internamente, como nos países ocidentais, que podem se ver instigados a esmiuçar as ações e apurar possíveis crimes de seus ex-mandatários durante o exercício do poder e, consequentemente, levar mais poderosos para detrás das grades. Que prevaleça a Justiça.

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