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OPINIÃO

Victor Correia: Promessas em xeque

Cabe a cobrança às autoridades sobre o que será feito de diferente, sobre qual a solução proposta para que os direitos das populações vulneráveis sejam realmente garantidos

Movimentos estudantis e sociais fazem ato a favor da democracia, em Brasília. Concentrados em frente à Biblioteca Nacional, manifestantes rumam em direção ao Congresso -  (crédito: Victor Correia/CB)
Movimentos estudantis e sociais fazem ato a favor da democracia, em Brasília. Concentrados em frente à Biblioteca Nacional, manifestantes rumam em direção ao Congresso - (crédito: Victor Correia/CB)
postado em 03/04/2023 06:00

Um temor comum que ouço ao falar com movimentos sociais é que as políticas anunciadas pelo governo não saiam do discurso. Não seria novidade. O Brasil tem uma malha complexa de grupos e populações historicamente marginalizados. Alguns foram reduzidos a dezenas de pessoas por um massacre continuado, que começou com a colonização e nunca parou. Outras minorias formam mais da metade da população, mas ainda assim enfrentam as maiores taxas de assassinatos, condições precárias de vida, e falta de acesso a direitos básicos.

Fato consumado, não se resolve cinco séculos de exploração em quatro anos. Presidente do Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, Epsy Campbell disse ao Correio, quando esteve em Brasília, que "o racismo sistêmico requer uma resposta sistêmica", e o mesmo vale para qualquer tipo de exploração derivada de um sistema que se estabeleceu no país. Vale, portanto, ser realista quanto ao que um governo de situação consegue fazer, a curto e médio prazo, para reduzir o abismo que separa essas populações dos seus direitos básicos. Isso não significa reduzir a cobrança.

Os governos petistas anteriores demonstraram uma importante preocupação com negros, LGBTQIA , indígenas, quilombolas, camponeses, pessoas em situação de rua, e tantos outros que mais precisam da atenção do Estado. Louvável. Mas pergunte a qualquer movimento que represente essas pessoas se as medidas, que foram tão alardeadas, realmente chegaram em suas vidas. As poucas implementadas foram desmontadas assim que mudou a situação. O temor é o mesmo agora.

Cabe a cobrança às autoridades sobre o que será feito de diferente, sobre qual a solução proposta para que os direitos das populações vulneráveis sejam realmente garantidos. Repetir programas e medidas do passado não vai funcionar, a menos que a intenção seja apenas passar a imagem de preocupação durante os quatro anos.

Nas eleições, a grande maioria dos movimentos sociais deu um voto de confiança a Lula, e o apoiou. É fácil ver que é melhor ter um presidente que os apoia em discurso, mesmo que entregue menos do que o prometido, do que um que marginaliza, reproduz preconceitos e uma visão completamente descolada da realidade.

Mas haverá cobrança. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), bastante próximo ao governo, criticou a demora em implementar medidas da reforma agrária. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), intimamente ligada ao PT, também criticou o aumento do salário mínimo. As organizações celebram o diálogo com o governo, que finalmente é possível, mas cobram o prometido.

Em maio do ano passado, em plena pré-campanha, o então candidato participou de um grande ato com movimentos em São Paulo. Em discurso — diria profético, mas realista é melhor — Lula declarou que as pessoas o cobrariam "com sede para pedir direitos que o Estado tem negado", e incentivou o ato.

Mas chama atenção o resto da fala. "Ao invés de discutir responsabilidade fiscal para pagar banqueiro, a gente precisa discutir responsabilidade social para pagar a dívida que a gente tem com o povo." Até que ponto Lula está disposto a ir para resolver desigualdades estruturais e melhorar a vida da população, indo de encontro aos interesses de poderosos?

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