Não se sabe ao certo o que seria, na visão dos atuais protagonistas do poder, o que significaria a utilização do adjetivo "extrema" constantemente acoplado à expressão direita, quando se referem aos seguidores do ex-presidente. Comunicadores seguem o modelo e também os apelidam de extremistas quaisquer outros grupos que se posicionem como direita.
Para aqueles que se deixam embalar pelas cantilenas do populismo, extrema direita ou extrema esquerda são termos utilizados apenas para desqualificar o oponente, lançando-o às bordas e aos limites da razão. Ocorre que nada é mais parecido e próximo um do outro, do que os elementos que se situam nos extremos, confirmando a tese antiga de que os extremos se tocam.
Soldados que vigiavam as fronteiras entre a Europa Ocidental e Oriental, durante a Guerra Fria, pela proximidade e pelo convívio obrigatório que essa condição exigia, mantinham nesses locais, trocas de impressões e comentários ou mesmo provocações irônicas sobre o cotidiano de cada lado dessas barreiras. Com o tempo, os mais curiosos começavam a perceber que eram as divisões ordenadas pela ação política e ideológica, que induziam as divisões entre as pessoas e não, propriamente, a realidade humana, que parecia manter o mesmo padrão.
Todos queriam viver, cruzar esses pontos de fronteiras, sem problemas e ter uma vida digna. Mas havia ali, naquele ponto extremo, uma diferença que chamava a atenção de todos: eram sempre as populações que habitam o lado Oriental que tentavam passar para o Ocidente, e não eram poucos. Dificilmente se via algum indivíduo tentando ingressar no lado Oriental. E por que isso ocorria? A resposta era simples e dizia muito sobre essa linha divisória. No lado Oriental, naquele período dominado pela URSS comunista, não havia liberdade. Todos eram controlados pelo Estado onipresente, e isso fazia toda a diferença entre um lado e outro.
Não foram poucos os casos de soldados, que aproveitando a oportunidade de estarem tão perto da fronteira, fugiam para o lado ocidental, com a ajuda dos seus colegas, de um lado e de outro. Vendo isso, as autoridades da parte oriental criaram uma espécie de zona neutra ou de transição, afastando esses soldados do convívio com seus colegas do ocidente. Atletas, embaixadores, e outros personagens, quando vinham ao ocidente, logo providenciavam uma maneira de pedir asilo político, mesmo que isso acarretasse duras repressões aos seus parentes que ficavam do outro lado da fronteira. São inúmeras as histórias que contam as tentativas para se livrar do controle do Grande Irmão e a busca pela liberdade. Muitos pagaram com a vida.
Por ocasião das notícias dando conta da queda iminente do Muro de Berlim em novembro de 1989, quilômetros de carros particulares trazendo famílias inteiras e com aquilo que podiam carregar, formavam filas junto à fronteira, esperando o momento certo para cruzar para o lado oriental. Nenhuma alma viva fez o caminho inverso naquela data.
Voltando ao nosso caso particular, onde as nuances entre esquerda e direita se dão mais pelos valores de caráter de cada um, poderíamos facilmente classificar de extremismo, o uso dos recursos do Estado para enriquecimento do partido e de seus líderes. A dilapidação de empresas estatais e outros crimes, que todos vimos, ao vivo e em cores, e que guardam uma certa similaridade com os líderes políticos da antiga Europa Oriental, todos eles donos de grandes fortunas, enquanto para a população eram reservados tíquetes para a compra de alimentos escassos e racionados.
A construção efetiva de uma direita no Brasil, em contraponto aos desastres já conhecidos de outros carnavais, já foi iniciada. É um caminho ainda novo e que precisa ser pavimentado com muito esforço e dedicação, mas que se torna necessário e urgente para que os brasileiros de bem não tenham que se dirigir às fronteiras, em busca da liberdade.
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