Por Sacha Calmon — Advogado
Lucianne Carneiro e Francisco Goés bem analisam a viagem de Lula à China: "A prioridade da agenda entre Brasil e China deve ser sustentabilidade, tecnologia e inovação, sem abandonar os temas tradicionais do comércio entre os dois países, defendem empresas que vão participar da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país asiático. A estratégia é o caminho apontado para que o antigo desejo de diversificação da relação bilateral saia do papel e o Brasil possa aproveitar as oportunidades de negócios entre os dois países.
Para o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), os pilares de sustentabilidade e tecnologia e inovação estão ligados à agenda do futuro e devem ser base para uma nova relação bilateral. A leitura é que os temas são prioridade para o governo chinês — com metas para a descarbonização de economia — e podem dar impulso a conexões inovadoras entre os países. A Vale vem fazendo esforço para ajudar as siderúrgicas na descarbonização. Usinas chinesas estão entre os clientes da mineradora.
Pablo Gimenez Machado, diretor-executivo da Suzano para China e também diretor do CEBC, defende a agenda da sustentabilidade para relações comerciais e investimentos: "As maiores oportunidades estão onde o Brasil possa oferecer transição para a economia de baixo carbono, prioridade na China. "Também há oportunidades para empresas que conseguirem contribuir para a segurança da cadeia de suprimentos do país," completou.
Gustavo Rabello, sócio do escritório de advocacia Tozzini, responsável pelo China Desk e diretor do CEBC, também vê oportunidades nessas novas áreas, embora destaque a importância dos temas tradicionais.
Commodities sempre serão pauta das discussões sobre exportações porque são fontes muito importantes de receita, já que o Brasil é um dos principais produtores de alimentos do mundo. "A questão é como adicionar também produtos e serviços de valor agregado entre os países", afirma!
O amplo interesse de empresas brasileiras por participar da viagem, segundo empresários, é que ocorre pouco após a reabertura das fronteiras chinesas, que permaneceram fechadas entre 2020 e 2022 pelas restrições impostas pela pandemia. "Além disso, o ambiente geopolítico mudou no período. Há interesse em entender o que essas mudanças representam para os negócios", explica Machado. Há alguns dias, o secretário especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou que temas como clima, investimentos e infraestrutura terão centralidade na viagem. Ele citou que a China ainda é talvez o maior emissor de CO2, mas tem programas importantes na área.
Em 2022, a corrente de comércio ultrapassou os US$ 150 bilhões, com US$ 89,4 bilhões em exportações para a China e importações brasileiras de US$ 60,7 bilhões. O perfil desse comércio, no entanto, se mantém concentrado e é muito parecido ao do início, com foco em commodities. Apenas três produtos — soja, minério de ferro e óleo bruto de petróleo — respondem por mais de 70% (US $66,4 bilhões) do que foi vendido pelo Brasil para a China no ano passado.
Entre os principais produtos importados do país asiático, a composição é bem diferente: células fotovoltaicas, células solares e partes de aparelhos telefônicos (smartphones), por exemplo. "O Brasil foi consolidando exportações, mas a pauta continua a mesma: commodities, commodities e commodities", afirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Presidente da Apex Brasil, Jorge Viana vê na viagem um recomeço nas relações entre Brasil e China: "Sai um governo que fazia piada com a China e entra um que tem uma amizade histórica. É um recomeço com nosso maior parceiro comercial".
Há, entre os empresários, também quem tenha uma postura mais cautelosa sobre esse avanço da agenda. A necessidade de debater temas antigos, como embargo da carne brasileira, agora suspenso.
A China é a fábrica do mundo e, pois, exportar para lá industrializados de ponta é pura ilusão. Não, porém, minérios raros e semi-industrializados, além de maiores volumes de itens do agronegócio.
O maior interesse, entretanto, é trazer, com cláusulas de segurança, o potencial industrial da China para o Brasil, com transferência de tecnologia, mormente nas áreas de eletrônicos e comunicações.
A China anseia se fixar na América do Sul e o Brasil de se projetar na Ásia. Essa, agora, é uma grande oportunidade geopolítica, e a Amazônia tem muito potencial para se desenvolver na área de satélites, drones e investimentos chineses sob o controle de nossas forças armadas.
Não seremos colônia de nenhum país e amigo de todos. A política de alinhamento automático reduz a nossa soberania política e econômica. A China com 1,4 bilhão de habitantes é, sem dúvida, prioridade em nossa política externa. A reindustrialização do Brasil requer capitais chineses e altas tecnologias, sem excluir os Estados Unidos e a União Europeia.
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