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OPINIÃO

Artigo: Agenda com a China

TOPSHOT - The Chinese national flag is prepared to be raised before the medal ceremony after China's Huang Dongping and Wang Yilyu won the mixed doubles badminton final match against China's Zheng Siwei and Huang Yaqiong during the Tokyo 2020 Olympic Games at the Musashino Forest Sports Plaza in Tokyo on July 30, 2021.  (Photo by Alexander NEMENOV / AFP) -  (crédito: ALEXANDER NEMENOV)
TOPSHOT - The Chinese national flag is prepared to be raised before the medal ceremony after China's Huang Dongping and Wang Yilyu won the mixed doubles badminton final match against China's Zheng Siwei and Huang Yaqiong during the Tokyo 2020 Olympic Games at the Musashino Forest Sports Plaza in Tokyo on July 30, 2021. (Photo by Alexander NEMENOV / AFP) - (crédito: ALEXANDER NEMENOV)
postado em 02/04/2023 06:00

Por Sacha Calmon — Advogado  

Lucianne Carneiro e Francisco Goés bem analisam a viagem de Lula à China: "A prioridade da agenda entre Brasil e China deve ser sustentabilidade, tecnologia e inovação, sem abandonar os temas tradicionais do comércio entre os dois países, defendem empresas que vão participar da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país asiático. A estratégia é o caminho apontado para que o antigo desejo de diversificação da relação bilateral saia do papel e o Brasil possa aproveitar as oportunidades de negócios entre os dois países.

Para o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), os pilares de sustentabilidade e tecnologia e inovação estão ligados à agenda do futuro e devem ser base para uma nova relação bilateral. A leitura é que os temas são prioridade para o governo chinês — com metas para a descarbonização de economia — e podem dar impulso a conexões inovadoras entre os países. A Vale vem fazendo esforço para ajudar as siderúrgicas na descarbonização. Usinas chinesas estão entre os clientes da mineradora.

Pablo Gimenez Machado, diretor-executivo da Suzano para China e também diretor do CEBC, defende a agenda da sustentabilidade para relações comerciais e investimentos: "As maiores oportunidades estão onde o Brasil possa oferecer transição para a economia de baixo carbono, prioridade na China. "Também há oportunidades para empresas que conseguirem contribuir para a segurança da cadeia de suprimentos do país," completou.

Gustavo Rabello, sócio do escritório de advocacia Tozzini, responsável pelo China Desk e diretor do CEBC, também vê oportunidades nessas novas áreas, embora destaque a importância dos temas tradicionais.

Commodities sempre serão pauta das discussões sobre exportações porque são fontes muito importantes de receita, já que o Brasil é um dos principais produtores de alimentos do mundo. "A questão é como adicionar também produtos e serviços de valor agregado entre os países", afirma!

O amplo interesse de empresas brasileiras por participar da viagem, segundo empresários, é que ocorre pouco após a reabertura das fronteiras chinesas, que permaneceram fechadas entre 2020 e 2022 pelas restrições impostas pela pandemia. "Além disso, o ambiente geopolítico mudou no período. Há interesse em entender o que essas mudanças representam para os negócios", explica Machado. Há alguns dias, o secretário especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou que temas como clima, investimentos e infraestrutura terão centralidade na viagem. Ele citou que a China ainda é talvez o maior emissor de CO2, mas tem programas importantes na área.

Em 2022, a corrente de comércio ultrapassou os US$ 150 bilhões, com US$ 89,4 bilhões em exportações para a China e importações brasileiras de US$ 60,7 bilhões. O perfil desse comércio, no entanto, se mantém concentrado e é muito parecido ao do início, com foco em commodities. Apenas três produtos — soja, minério de ferro e óleo bruto de petróleo — respondem por mais de 70% (US $66,4 bilhões) do que foi vendido pelo Brasil para a China no ano passado.

Entre os principais produtos importados do país asiático, a composição é bem diferente: células fotovoltaicas, células solares e partes de aparelhos telefônicos (smartphones), por exemplo. "O Brasil foi consolidando exportações, mas a pauta continua a mesma: commodities, commodities e commodities", afirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Presidente da Apex Brasil, Jorge Viana vê na viagem um recomeço nas relações entre Brasil e China: "Sai um governo que fazia piada com a China e entra um que tem uma amizade histórica. É um recomeço com nosso maior parceiro comercial".

Há, entre os empresários, também quem tenha uma postura mais cautelosa sobre esse avanço da agenda. A necessidade de debater temas antigos, como embargo da carne brasileira, agora suspenso.

A China é a fábrica do mundo e, pois, exportar para lá industrializados de ponta é pura ilusão. Não, porém, minérios raros e semi-industrializados, além de maiores volumes de itens do agronegócio.

O maior interesse, entretanto, é trazer, com cláusulas de segurança, o potencial industrial da China para o Brasil, com transferência de tecnologia, mormente nas áreas de eletrônicos e comunicações.

A China anseia se fixar na América do Sul e o Brasil de se projetar na Ásia. Essa, agora, é uma grande oportunidade geopolítica, e a Amazônia tem muito potencial para se desenvolver na área de satélites, drones e investimentos chineses sob o controle de nossas forças armadas.

Não seremos colônia de nenhum país e amigo de todos. A política de alinhamento automático reduz a nossa soberania política e econômica. A China com 1,4 bilhão de habitantes é, sem dúvida, prioridade em nossa política externa. A reindustrialização do Brasil requer capitais chineses e altas tecnologias, sem excluir os Estados Unidos e a União Europeia.

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