CARLOS ALBERTO SANTANA - Empresário, é CEO da CS Invest e sócio-fundador da Tecnobank
Apesar do título, começo este artigo com outro questionamento: seriam as crises dos bancos americanos Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank um presságio do que pode vir a acontecer com o mundo e, claro, com o Brasil, ou um déjà vu de situações enfrentadas pelos EUA em 1929 e 2008, com reflexos em todo o mundo? Ou ambos?
Fato é que a quebra do SVB, o 16º maior banco dos Estados Unidos, que acende um importante alerta sobre a política monetária do país, não é a única notícia negativa e de impacto no mundo dos negócios e investimentos neste momento. As manchetes vindas do Vale do Silício nos últimos meses não são animadoras. Entre as poucas inovações, temos o ChatGPT, que serviu de concretização da boa fase vivenciada pela Microsoft, via participação bilionária na OpenAI. Por seu lado, são frequentes as notícias de perdas de valor de mercado, com destaque para Twitter, Meta/Facebook e Google, além de crises financeiras de todos os tipos.
Como se não bastasse, nos últimos 12 meses mais de 330 mil funcionários foram demitidos das empresas de tecnologia, segundo levantamento da TrueUp. Noventa mil foram desligados apenas no primeiro bimestre de 2023. Há inúmeras análises acerca desse comportamento, mas trago aqui três reflexões possíveis: 1) o boom de contratações que inflacionou salários e benefícios dos profissionais de tecnologia. Com mais profissionais disponíveis no mercado, maior será a possibilidade de realinhamento salarial das áreas de recursos humanos; 2) a queda, com a retomada das atividades presenciais, nas demandas de tecnologia geradas na pandemia. Segundo a consultoria Wealth High Governance, mais de 941 mil pessoas foram contratadas pelo Vale do Silício entre o quarto trimestre de 2019 e o terceiro de 2022, um contingente que já não é tão necessário; e 3) a queda de produtividade dos profissionais como reflexo de novo modelo de trabalho, também fortalecido na pandemia, que talvez precise de revisões para adequação ao novo momento que vivemos.
Saiba Mais
Para minimizar a gigantesca crise em curso (em dois dias, investidores acumularam US$ 465 bilhões em perdas na bolsa), o Federal Reserve Board (FED), o banco central norte-americano, não esperou nem a segunda-feira chegar e, no domingo, 12 de março, comunicou que agiria de maneira imediata. Qual a mensagem que esse cenário nos transmite? Para chegarmos a uma conclusão, é preciso analisar presente e passado em conjunto, ampliando a reflexão para além das fronteiras norte- americanas e chegando ao Brasil.
Segundo o analista político Genésio Araújo Jr., os movimentos atuais de Joe Biden, presidente democrata dos EUA, podem representar uma reedição do New Deal, desenvolvido por Roosevelt no pós-crise de 1929 (quando o republicano Herbert Clark Hoover presidia os EUA), que quebrou a bolsa de valores de Nova York. O resultado?
O também democrata Roosevelt foi eleito presidente por quatro mandatos consecutivos. Menos distante está o exemplo de Obama, que, para enfrentar a crise de 2008, injetou US$ 2 trilhões na economia americana, salvando, mais uma vez, o capitalismo. Coincidência ou não, assim como Roosevelt e Biden, Obama era um presidente democrata.
No mesmo 2008, Lula liderava um Brasil que, na contramão da crise global, crescia e viria a se tornar a 7ª maior economia do planeta. Existe ainda um novo paralelo: os resultados negativos vivenciados agora pelo SVB são reflexo de um período governado pelo republicano Donald Trump. E por aqui temos, novamente, Lula na Presidência.
Enquanto Biden vai bancar o prejuízo dos clientes do SVB e do Signature Bank e atuar para controlar os juros e evitar a falência de outras instituições financeiras, o Brasil pode ganhar com isso. Em tempos de debate sobre nossa taxa básica de juros, o case às avessas dos EUA pode influenciar mudanças rápidas na política monetária nacional, com reflexos diretos na próxima reunião do Copom.
Finalizo este artigo com uma reflexão de Reinaldo Rabelo, do Mercado Bitcoin: "A história se repete várias vezes antes que as coisas mudem". O que precisa mudar no dia a dia dos mercados financeiro e de tecnologia, além das políticas monetárias das grandes economias globais, para que não vejamos os mesmos problemas se repetirem? A resposta pode salvar muitos bilhões de dólares mundo afora.