Nos últimos 10 anos, foram registrados pelo menos 10 massacres em escolas, em diferentes pontos do país. A maioria deles, motivada por bullying. Os agressores usaram facas e armas de fogo para matar professores e alunos. Na manhã da última segunda-feira, na Escola Estadual Thomázia Montoro, em Vila Sônia, Zona Oeste de São Paulo. Uma professora de 71 anos morreu, e cinco outras pessoas, entre docentes e alunos, ficaram feridos. O ataque foi protagonizado por um menino de 13 anos, com uma faca, descrito como violento e racista tanto pelos colegas quanto pelos professores. Dois anos antes, ainda na pandemia de covid-19, ele tentou comprar uma arma de fogo pela internet.
Na manhã desta quarta-feira, nova tragédia foi evitada no Distrito Federal. Um aluno de um colégio de Águas Claras, por meio do Instagram, anunciou que planejava uma ação no ambiente escolar: "Aproveitem enquanto podem, amanhã será o grande dia". O estudante foi identificado pela Delegacia de Crimes Cibernéticos.
Os sinais de que os jovens têm problemas mentais e emocionais graves estão evidentes, e não só pela pandemia de covid-19, que deixou rastro de sequelas na população, nem pelo episódio de segunda-feira. O problema se arrasta há anos e vem sendo ignorado pelos estabelecimentos de ensino, bem como pelo poder público. A falta de psicólogos, fiscais ou monitores nas unidades de ensino, tem comprometido quaisquer ações preventivas. Esses profissionais poderiam identificar um desvio de comportamento. Sugerir atenção redobrada para esse ou aquele estudante e um convite aos pais para apurar o que vem ocorrendo dentro do lar. Ou seja apurar os motivos da mudança de comportamento do aluno para um tratamento adequado. Tais cuidados têm de fazer parte da rotina escolar. Se eles elevam o custo das instituições de ensino, ao mesmo tempo, reduzem as possibilidades de ocorrência de atos desatinados, que terminam no luto.
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Garantir qualidade do ensino é essencial à formação dos estudantes, mas não menos importante é assegurar um ambiente saudável para que tais crimes sejam contidos. A grade curricular da maioria das escolas não contempla uma educação voltada à cultura de paz, que se apoia em valores civilizatórios, atitudes, tradições e comportamentos anticonflitos. Tem como base o respeito à vida e aos direitos humanos, a promoção e práticas de não violência por meio da educação.
O Brasil, na verdade, está muito atrasado no debate e na prática de uma educação para a cultura de paz. Esse atraso ocorre na maioria das camadas sociais. Falta respeito aos mais velhos, aos mais novos e aos que, erroneamente, são reconhecidos como diferentes com base na origem étnica, no gênero e no ambiente de vida das pessoas. Tais deficits estão na origem do racismo racial e ambiental, da homofobia, da misoginia e de outras expressões de preconceitos, quase sempre motivadoras de atos de violência. O bullying, estopim para os massacres em escolas, resulta do desrespeito que traumatiza e leva a vítima aos desatinos.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, na cerimônia de posse dos seus auxiliares, destacou a importância de retomar a política pública de saúde mental. Ela reconheceu a relevância dos princípios da Reforma Psiquiátrica na política de saúde mental a ser reconstruída em no país, abolida em 2022. Em todo o país, os Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs) enfrentam deficit de profissionais. Recompor esses centros é providência mais do que necessária. Ela é urgente e não pode ser mais postergada. O avanço da violência indica que vivemos em uma sociedade com graves desequilíbrios mentais e emocionais. Ela precisa ser curada.