anistia partidária

Artigo — Anistia para quem precisa: o combinado não pode sair caro

Gabriela Rollemberg - Advogada e cientista política, cofundadora da Quero Você Eleita

Adriana Vasconcelos - Jornalista, consultora da Quero Você Eleita

Uma nova anistia partidária surgiu no horizonte para beneficiar novamente os partidos políticos que não cumpriram a determinação da Constituição Federal, que define que a quantidade de recursos públicos destinada ao financiamento das campanhas eleitorais femininas deverá ser, no mínimo, 30% ou proporcional ao número de candidatas a deputada. O perdão também abarcaria o valor que deixou de ser aplicado nas candidaturas negras, considerando homens e mulheres.

Trata-se da proposta de emenda constitucional (PEC) apresentada pelo deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), que pretende estender para a eleição de 2022 a anistia aprovada no ano passado, que já havia perdoado os partidos que não cumpriram a mesma determinação. A regra existe desde a eleição de 2018 e nunca foi efetivamente aplicada.

Além de a PEC ser inconstitucional, a aprovação do texto consolidará a revitimização das mulheres e dos negros que saíram endividados da disputa eleitoral do ano passado, após registrarem suas candidaturas acreditando na palavra dos dirigentes partidários a respeito de valores que seriam repassados para garantir uma campanha eleitoral minimamente viável.

"O combinado não sai caro", diz a sabedoria popular. A lei civil afirma que o acordo verbal faz lei entre as partes. "A palavra é de ouro." Muitas pessoas ainda acreditam e praticam a honestidade. E são exatamente essas, que se colocaram a serviço da representatividade e da autenticidade democrática, que estão atualmente endividadas.

Não se faz campanha sem gastar dinheiro, e o que foi prometido não chegou à conta bancária eleitoral. Na prática, vimos dirigentes nacionais não cumprindo os combinados com os estaduais. Ou ainda os dirigentes de todas as hierarquias não cumprindo com a palavra perante as candidaturas. Ao que tudo indica, presenciamos verdadeiros estelionatos eleitorais.

Em um Congresso Nacional ainda majoritariamente masculino e branco, o que também prevalece entre os dirigentes partidários, a prorrogação da nova anistia tende a ser bem recebida. Por essa razão, é urgente a união das bancadas femininas da Câmara e do Senado nesse debate. É preciso que a sociedade civil organizada e desorganizada se una para fazer do limão uma limonada.

Quero Você Eleita, um laboratório de inovação política, está disposto a liderar um movimento frente ao Congresso Nacional e convida quem estiver lendo este artigo para participar. Ao invés de anistiar os partidos, precisamos promover uma reconciliação: a nossa proposta é recompensar as candidaturas de mulheres e negros para promover a quitação de suas dívidas eleitorais. Aqui se faz, aqui se paga. Não podemos deixar que essas pessoas ainda tenham que suportar ver o seu nome sujo na praça, saindo desestimuladas a participar do que deveria ser uma festa democrática bancada com os nossos impostos.

A anistia é inconstitucional, mas ainda assim queremos negociar. Estamos propondo que os recursos que deixaram de ser aplicados na última eleição sejam destinados a compor um fundo público transitório para ressarcir prioritariamente os prejuízos dessas candidaturas, que foram induzidas a erro por seus dirigentes. Precisamos garantir o direito dos fornecedores e prestadores de serviço, que também estão sendo penalizados, pois a maioria vai acabar ficando com esse prejuízo.

Se ainda assim houver sobra financeira, esse dinheiro deverá ser destinado a expandir os espaços das lideranças femininas e negras de todos os partidos, dando acesso personalizado à inteligência emocional, ao marketing, a ferramentas de negociação, à comunicação positiva e não violenta, à gestão de imagem pessoal, à autoconsciência, à autossustentabilidade, a técnicas de contação de histórias, à gestão de comunidades e a recursos humanos. Tudo que compõe o futuro da política ou a política que queremos ver no futuro. A construção de uma candidatura competitiva já começou faz tempo.

Candidaturas fictícias, desvio de recursos de mulheres e negros, violência política de gênero, tudo isso só será combatido com ações concretas e eficientes. Saímos de 15% para 18% de deputadas federais na Câmara, um progresso inexpressivo, mantido por uma estrutura que viemos aqui para romper. Enquanto não levarmos a sério a necessidade de eleger mulheres e negros neste país, não alcançaremos a diversidade da sociedade brasileira. Não há democracia sem autenticidade.

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