Opinião

Artigo: Messi ensina a bater falta

Para o nosso deleite, Messi, Cristiano Ronaldo e outros doutrinadores da bola parada continuam dando aula

O gol 800 da carreira de Messi na vitória da tricampeã mundial Argentina por 2 x 0 contra o Panamá é simbólico. Cobranças de falta no alvo estão em extinção. Testemunhar uma obra-prima como a 62ª do jogador eleito sete vezes melhor do mundo é uma raridade.

Existe uma crise técnica global. Atinge a elite do futebol. Há escassez de pés calibrados e gols de falta nas cinco principais ligas nacionais da Europa na temporada de 2022/23. O Alemão e o Francês lideram o ranking com 16 cada contra 12 no Inglês e 11 no Espanhol e no Italiano. Isoladamente, os números parecem satisfatórios. Só que não.

Liga das Estrelas, o Espanhol registra a segunda pior quantidade de gols de falta em 10 temporadas. Houve pico de 34 em 2016/17. A edição atual só supera os 9 gols de 2021/22. A versão em disputa agrega 221 tentativas. Onze estufaram a rede. O índice de acerto é baixo: 4,97%. Oito dos 20 times converteram no mínimo uma. Real Madrid, Rayo Vallecano e Getafe têm dois cada.

O Italiano testemunhou 38 gols de falta no auge desse recorte de 10 temporadas. Foi em 2015/16. São 11 em em 229 cobranças na Serie A de 2022/23 (4,08%). Sete clubes acertaram o alvo. A Juventus lidera com três bolas na rede.

Considerado o mais badalado do mundo, o Inglês ocupa o terceiro lugar no levantamento. São 227 cobranças neste capítulo da Premier League. Doze terminaram na meta (5,28%). O Southampton fez três. Comanda a lista entre nove times. A competição terminou com 26 gols de falta nas temporadas de 2016/17 e de 2019/20.

O Francês e o Alemão dividem o pódio. A Ligue 1 acumula 16 gols de falta em 231 tentativas (6,92%) contra picos de 26 em duas das últimas 10 edições. O PSG ostenta Mbappé, Messi e Neymar, porém o time mais eficiente no quesito chama-se Lorient: três conversões. Na Bundesliga, o Red Bull Leipzig também é referência com três acertos. São 16 gols de 10 times em 171 tentativas.

Consultei especialistas e estudos científicos acerca da crise. Uns apontam a revolução na formação das barreiras. Outros, a tecnologia a serviço dos goleiros. Técnicos exigem faltas longe da área. Em média, a distância das cobranças aumentou de 16,08m para 17,02m. São proibidas no centro da área. Alguns fisiologistas vetam treinos exaustivos de cobranças de falta. Alegam que os jogadores de hoje correm, em média, de 9 a 11km por jogo contra 4 a 7km no passado. A preferência pela posse de bola em vez da cobrança direta e a vista grossa dos árbitros com barreiras ambulantes também constam.

Para o nosso deleite, Messi, Cristiano Ronaldo e outros doutrinadores da bola parada continuam dando aula. A contar de 2014/15, Griezzmann acertou sete de 46 cobranças (15,22%). James Ward-Prowse (Southampton) acumula 17 gols de falta em 11 temporadas na Premier League. Falta um para igualar o recorde de Beckham. Que eles nunca nos faltem.

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