ECONOMIA

Análise: Lula vai à China sob os olhares atentos do mercado financeiro

Ontem, pela primeira vez desde julho do ano passado, quando nem havia iniciado o período eleitoral, a bolsa de valores de São Paulo, a B3, perdeu o patamar dos 100 mil pontos. Sinal que a desconfiança do mercado com governo Lula, principalmente em relação às metas fiscais, anda em alta

Os holofotes de todo o mundo se voltam para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o fim do mês, com a visita de Estado à China. A comitiva presidencial embarca no domingo para o gigante asiático, com a participação recorde de empresários — a maior parte ligada ao agronegócio —, no que promete ser a viagem internacional mais importante do ano. Na bagagem, a missão de restabelecer uma boa relação, desgastada durante o governo de Jair Bolsonaro, com o principal parceiro comercial brasileiro, e a discussão sobre ações para uma trégua na guerra entre Rússia e Ucrânia.

Depois da viagem à Argentina e aos Estados Unidos, Lula segue à risca um dos princípios da diplomacia brasileira ao visitar logo a China: o de dar atenção aos principais parceiros mundiais. Além de bastante simbólica, a viagem à Ásia busca trazer mais investimentos para o país. Empresas chinesas veem boas oportunidades de negócio por aqui, principalmente em projetos de infraestrura e em ciência, tecnologia e inovação.

A decisão da China, anunciada nesta quinta-feira, de retomar a compra de carne bovina brasileira é mais um sinal de que há um ambiente propício para negócios. No fim de fevereiro, devido a protocolo de autoembargo existente entre os dois países, foram suspensas temporariamente as exportações após a confirmação de um caso de mal da vaca louca em um animal em Marabá, no Pará. Agora, tudo volta ao normal.

Ao mesmo tempo, Lula deixará importantes discussões na área econômica em andamento aqui no Brasil. Depois da decisão do Banco Central em manter a taxa básica de juros a 13,75% ao ano com a sinalização de que não deve ocorrer uma redução em breve, que inclusive recebeu fortes críticas do presidente, outra discussão vai permear o noticiário econômico nos próximos dias: o corte orçamentário. O rombo está em R$ 120 bilhões e o congelamento de despesas será necessário — medida apontada por analistas do mercado financeiro como fundamental para possibilitar um corte de juros mais rápido por parte do BC.

Ontem, pela primeira vez desde julho do ano passado, quando nem havia iniciado o período eleitoral, a bolsa de valores de São Paulo, a B3, perdeu o patamar dos 100 mil pontos. Sinal que a desconfiança do mercado com governo Lula, principalmente em relação às metas fiscais, anda em alta. Na classe política, há a certeza de que o sucesso do governo Lula passa pelo crescimento da economia. E o quadrado mágico se atende pelo nome de deficit, investimentos, juros e novas regras fiscais. É o que todo mundo espera da equipe econômica.

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