Ainda hoje me pego vendo fotos minhas e de meu irmão, Leonardo, quando éramos crianças. Não faço ideia de quem sou eu e quem é ele nos retratos. Ele nasceu cinco minutos antes de mim — e, acreditem (!), me cobrava respeito por ser o mais "velho". Nossa mãe nos vestia de forma quase igual. Mudava a cor da mesma estampa da camiseta.
Quando ambos morávamos em Goiânia, cidade onde nascemos, nossos pais e avós costumavam confundir a nossa voz ao telefone. E me recordo de que Leonardo chegou a conversar com a minha namorada, à época, como se fosse eu. Eram situações cômicas. Certa vez, eu e essa ex-namorada encontramos a tia da namorada do meu irmão no shopping. Ela jurou de pé junto que o Leonardo traía a Keila.
E quando eu caminhava pela rua e alguém me cumprimentava como se fôssemos velhos conhecidos? Eu simplesmente acenava de volta. Caso contrário, a reclamação chegava ao meu irmão sobre falta de educação ou antipatia. Outra vez, lá estava eu no mictório do banheiro do shopping quando levei um tapa nas costas: "Leonardo, há quanto tempo!". Hora de manter a compostura e soltar aquela gargalhada.
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Muitos me perguntam se eu e meu irmão alguma vez tiramos proveito de nossa condição gemelar. Confesso que não faltaram oportunidades. Na escola, por exemplo... Leonardo sempre foi "caxias" e se dava muito bem na área de exatas, enquanto eu sempre fui sofrível. Podíamos ter trocado as provas de matemática ou física. Mas jamais o fizemos. Graças aos exemplos dados pelos nossos pais. Aliás, a última e única vez que "colei" dele foi numa prova de biologia da 7ª série. Ele obteve 9,5; eu, 4,5...
Há quem diga que meu irmão é mais racional, e eu, sentimental. Essas décadas de convívio — contando os nove meses que partilhamos no ventre de nossa mãe — me mostraram que ser gêmeo é um presente divino. Somos grandes amigos, confidentes e compadres.
Decidi escrever esse texto depois que li uma reportagem sobre a argentina Sofía Rodríguez, mãe de Lorenzo e Valentín. Depois de uma troca de roupas dos filhos, ela perdeu a referência sobre quem é quem e pediu ajuda ao governo para identificá-los. As impressões digitais dos bebês foram colhidas e comparadas com os dados biométricos registrados após o nascimento. Mistério resolvido. Imagino que esse tipo de situação seja bem corriqueiro...
Dia desses, eu e meus irmãos travamos um debate com nossa mãe em torno de uma fotografia em que tínhamos uns quatro ou cinco anos. Ela garantia que eu era o da direita, abraçado ao Leonardo. Não senti tanta firmeza em sua segurança. "Sou mãe e sei", disse. Outros familiares opinaram de modo diferente, ao serem apresentados à imagem nas redes sociais. Enfim... Devo ser o Rodrigo, mesmo. Mas também devo dizer que seria uma honra ser o Leonardo. De verdade.