THAIS RIEDEL - ProfissãoMestre em direito previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), doutora em direito constitucional pelo IDP. É presidente do Instituto Brasiliense de Direito Previdenciário (Ibdprev) e da Associação Confederativa Brasileira da Advocacia Previdenciária (Acbrap)
O mês de março, em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, é um importante momento de reflexão sobre nossos desafios em um mundo em que ainda somos a maioria na base social, mas a minoria nos postos de trabalho de relevância; a maioria nas universidades, mas a minoria nas publicações científicas. Além disso, quando ocupamos o mesmo cargo, ainda recebemos em média 20% a menos do que os homens para exercermos as mesmas funções. Milhares de mulheres ainda são preteridas no mercado de trabalho por conta do gênero e constantemente são vítimas de assédio sexual, violência doméstica e feminicídios em pleno século 21.
Não tenho qualquer dúvida de que a solução desses problemas é complexa, passa por muitas questões que envolvem desde a necessidade de uma mudança cultural que reconheça plenamente as mulheres como seres de direitos iguais até políticas públicas que promovam a equidade de gênero nos espaços públicos. Mas, sem dúvida, essa luta pela efetiva igualdade de gênero exige a conscientização dos homens de que esse problema não é das mulheres apenas, mas de toda a sociedade.
A promoção da igualdade de gênero nos espaços públicos e privados gera benefícios coletivos de curto e longo prazo, além de contribuir para a concretização de valores indispensáveis à dignidade humana. Pesquisa da Diversity Matters aponta que as empresas que promovem igualdade de gênero têm 14% mais chance de superar seus concorrentes e 93% mais chances de apresentar melhor desempenho no mercado.
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No Brasil, temos observado avanços significativos na área mesmo que ainda insuficientes para uma efetiva equidade de gêneros. Embora apenas 38% dos cargos de lideranças em empresas privadas sejam ocupados por mulheres, o índice é mais alto do que a média global, que é de 32%, e do que o da América-Latina, que é de 35%. Cumpre destacar que as empresas que fomentam essa cultura conseguem resultados até 19% melhores em inovação.
Diferentes olhares sobre os problemas da humanidade, com a efetiva participação das mulheres nas soluções propostas, possibilitam avanços civilizatórios importantes. A experiência de ser mulher, com suas vivências e trajetórias, traz um pensar único que soma ao olhar masculino, formando um panorama mais diverso na construção das soluções necessárias no dia a dia. Daí por que se faz premente o engajamento de todos na promoção de igualdade de oportunidades.
Os avanços civilizatórios, entretanto, exigem luta e quebra de paradigmas. Nesse aspecto, enalteço todas as mulheres que foram precursoras dessas transformações sociais no passado e que tiveram a coragem para dar voz a tantas outras que não percebiam ou não conseguiam mudar suas realidades de opressão. Congratulo também movimentos como o Paridade de Verdade, que tenho a honra de integrar, que defende bravamente a paridade de gênero respeitando o viés racial para a composição das listas sêxtuplas para a indicação do quinto constitucional. É fundamental que contemos com mais mulheres empenhadas em incentivar e fomentar a participação feminina. Mas essa é uma luta muito grande. É uma batalha muito pesada. É tão grande e pesada que precisamos do engajamento de todos. Não podemos renunciar a 50% da população nessa missão.
Precisamos mudar a cultura para que os ambientes públicos sejam menos hostis para mulheres. Além disso, é missão de todos, homens e mulheres, garantir maior participação feminina nos espaços públicos e que elas sejam julgadas apenas por suas ações, não pelas roupas que vestem, pelo corpo ou qualquer característica pessoal. Só vamos conseguir isso quando todos compreenderem que a maior participação feminina nos espaços amplia a diversidade e melhora a sociedade como um todo.
Sou mãe de uma menina e de um menino e me preocupo com o futuro dessa luta. Procuro incentivar minha filha para que ela possa desenvolver todo o seu potencial e suas habilidades com independência e assertividade e ao mesmo tempo entendo o papel de mãe para criar um homem que entenda, respeite e trabalhe em prol de um mundo com mais equidade. Um homem que se levante pelas causas das mulheres. É o que precisamos: andar juntos — homens e mulheres — em prol de uma sociedade mais diversa e, ao mesmo tempo, mais igual. Para os homens que ainda não perceberam essa dimensão, fica a mensagem para que não tenham medo do futuro mais feminino. Eu garanto que será um mundo muito melhor para todos.