EDITORIAL

Visão do Correio: Patrimônio público, um bem de todos

A depredação da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro, independentemente do elenco de infrações penais, impôs aos brasileiros uma reflexão sobre os cuidados com o patrimônio público brasileiro. Bens que, embora caracterizam a arquitetura da capital da República, pertencem à sociedade nacional. Eles dão, literalmente, concretude à história de Brasília, em particular, e, em geral, de toda a nação. Os atos de vandalismo suscitaram um pensar sobre o que venha a ser educação patrimonial, que implica preservação dos próprios públicos, a fim de manter vivas as características singulares de uma cidade, com toda a sua bagagem histórica impressa na arquitetura, no urbanismo, nas referências e forma de vida da população que ela abriga. Mais: todo o patrimônio resulta do trabalho e do esforço de cada cidadão, que, por meio dos impostos recolhidos aos cofres do Estado, custeiam as obras públicas. Ou seja, os cidadãos são os financiadores dos bens e serviços gerenciados pelos governos.

A trajetória da criação de Brasília não guarda só aspectos políticos e estratégicos, que motivaram o seu surgimento na década de 1960, no Planalto Central,  para receber os Três Poderes da República, até então sediados no Rio de Janeiro. Foi muito além. Em 7 de dezembro de 1987, foi reconhecida como patrimônio cultural da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Um feito histórico superado pela cidade mineira de Ouro Preto, que foi a primeira a receber igual título, em 1980.

A modernidade e a beleza que caracterizam Brasília envelhecem como tudo no planeta. Como preservar este inigualável patrimônio nacional? A busca de resposta à indagação levou o Correio Braziliense, no início de março, a promover amplo debate sobre educação patrimonial. O jornal reuniu autoridades do Judiciário, do Executivo, arquitetos para, em conjunto, apontarem soluções e alternativas que assegurem a perenidade da capital, sem, contudo, distorcer as linhas originais do projeto da cidade, que bem retratam a genialidade do urbanista Lucio Costa e do arquiteto Oscar Niemeyer. Ainda em Minas Gerais, o Conjunto Arquietetônico da Pampulha, projeto de Niemeyer, foi o primeiro bem cultural a receber o título de Paisagem Cultural do Patrimônio Moderno, considerado pela Unesco uma obra-prima do gênio criativo humano.

Educação é palavra-chave que perpassa todas as instâncias de poder, bem como as diferentes camadas sociais da população, em todas as etapas. O crescimento demográfico impõe ao governo, como zelador dos bens públicos, ações que assegurem a expansão do sistema educacional da população e, acessoriamente, tornem os cidadãos parceiros ou guardiões dos espaços e das edificações urbanas e rurais. Cabe aos gestores do erário prever nos orçamentos para garantir a conservação dos bens patrimoniais.

Insere-se nessa lista o patrimônio natural, indispensável à qualidade de vida. Não faltam exemplos de experiências amargas de grupos populacionais quando a opção é substituir as áreas verdes por edificações ou asfalto. Não por acaso, nações desenvolvidas estão empenhadas em preservar florestas e nascentes ante os avanços das mudanças climáticas, causadoras de tragédias que ceifam vidas no planeta.

As iniciativas para difundir a educação patrimonial não podem ter caráter privado, mas devem resultar de consensos construídos, por meio do diálogo, entre os agentes de poder e a sociedade. Ninguém se responsabiliza quando desconhece ou não compreende a real importância de preservar os patrimônios materiais e imateriais de uma sociedade.

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