Estamos apenas no terceiro mês da temporada no futebol brasileiro e a capacidade de mobilização dos torcedores impressiona. Em um rápido levantamento, aferi que pelo menos metade dos 20 candidatos ao título da Série A do Campeonato Brasileiro foi submetido a protestos (pacíficos ou violentos) desde que a bola começou a rolar nos gramados do país em 2023. O engajamento clubístico tem repertório variado.
O técnico italiano Arrigo Sacchi disse, em 1994, que "O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes das nossas vidas", mas é incrível como alguns militantes julgam mais importante sair de casa para lutar pela causa do clube do que por questões socioeconômicas que afetam o bolso, a família, o dia a dia. Talvez por desencantamento. A resposta às manifestações é mais célere no futebol do que na política. Questões como o preço do combustível ou da picanha são menos relevantes do que a crítica ao valor do ingresso, a uma coleção de derrotas ou a insatisfação com o desempenho de um jogador ou técnico. Vira assustadoramente questão de "vida ou morte".
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O Palmeiras, por exemplo, empilha sete taças na gestão do técnico Abel Ferreira. É o atual campeão brasileiro. Venceu o Flamengo por 4 x 3 na Supercopa do Brasil, em Brasília. Mesmo assim, uma fatia da torcida alviverde é insaciável. Foi para a porta da sede do clube perturbar o juízo da presidente Leila Pereira. O principal item da pauta de reivindicações: reforços. A dirigente deu de ombros. Mais do que isso, contra-atacou reduzindo benesses como o investimento das empresas dela na escola de samba Mancha Verde.
A Nação Rubro-Negra é outro exemplo de insaciabilidade. O Flamengo encerrou o ano conquistando o tri na Libertadores e o tetra na Copa do Brasil. Bastou iniciar o ano com vices na Supercopa do Brasil, na Recopa Sul-Americana e terceiros lugares na Taça Guanabara e no Mundial de Clubes para a chapa esquentar no acesso ao Ninho do Urubu. O elenco mais vitorioso do clube depois da Era Zico ouviu até gritos de time sem vergonha, no Maracanã.
Eliminado do Paulistão pelo Ituano, a Gaviões da Fiel invadiu o CT para tomar satisfações com o elenco do Corinthians. Salvos do caos financeiro com a adesão à Sociedade Anônima do Futebol (SAF), fãs do do Cruzeiro e do Botafogo reclamam de barriga cheia. Exibem cartazes e xingam os respectivos donos, Ronaldo Nazário e John Textor, para quem quiser ler e ouvir.
Organizadas do Vasco boicotaram o duelo com o ABC na Copa do Brasil em retaliação ao preço mínimo do ingresso: R$ 150. Fãs do Goiás, Bahia e Santos detonaram a série de maus resultados. A do Atlético-MG rejeita o mecenas estadunidense Peter Grieve, dono da Football Co, numa possível SAF do Galo.
Imagina se 210 milhões de brasileiros fossem engajados pelos perrengues do país como são por times do coração...