Devoção. Fé. A Pedra da Unção impacta os olhos, o coração e a alma. É a primeira coisa que se vê quando se entra na Basílica do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém. Estive lá no último dia 7 pela quarta vez. Ajoelhei-me diante do bloco de mármore rosa que teria sido usado para preparar o corpo de Jesus Cristo para o enterro com mirra e óleos. À minha frente, do outro lado da pedra, uma idosa chorava de forma compulsiva. Pouco depois, um sacerdote chegou e derramou óleo de rosas sobre o mármore, o que fez exalar um odor levemente doce de nardo. Os fiéis chegaram e depositaram lenços, tercinhos e outros pertences no local.
Jerusalém exala misticismo, transcende a razão. Enquanto os judeus oram diante do Muro das Lamentações, do outro lado dos milenares blocos de pedra, os muçulmanos reverenciam Alá e Maomé. Ao som das preces judias se somam os chamados à oração feitos pelo muezim da Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado para o islamismo. Pela área murada da Cidade Velha, em apenas 900 metros quadrados, árabes, israelenses e cristãos convivem quase sempre em harmonia e com respeito. Vez ou outra, no entanto, ocorrem atentados a faca contra policiais israelenses.
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Mais ao norte, Israel também propicia ao turista e visitante uma experiência singular. O Mar da Galileia se impõe em meio às montanhas. Na quarta-feira passada, chegamos a Tiberíades, uma das cidades bíblicas situadas à margem do imenso lago, ao pôr-do-sol. Um cenário simplesmente deslumbrante. Apesar de toda a beleza, a tensão sempre paira no ar. Em Tel Aviv, estive a apenas 2km de um atentado. Um atirador palestino disparou contra três judeus ultraortodoxos na Rua Dizengoff, em frente a um restaurante, na noite da última quinta-feira. Em poucos minutos, uma multidão se reuniu no local e começou a gritar "Morte aos árabes!".
A Terra Santa e toda a região do Oriente Médio precisam de paz. É urgente que o ciclo de ódio entre israelenses e palestinos dê lugar à diplomacia. Ainda que suas demandas sejam conflitantes e extremamente sensíveis — Jerusalém como capital, o retorno dos refugiados, o controle da água, entre outros pontos —, os dois lados precisam interromper a violência e retomar as negociações, estagnadas há anos. A comunidade internacional, por sua vez, tem que se comprometer como nunca com uma solução baseada em dois Estados soberanos, independentes e livres.
Também tornam-se urgentem projetos que garantam o desenvolvimento da Faixa de Gaza e a prosperidade econômica em uma das regiões com maior índice de desemprego do planeta. A desesperança, o fanatismo e o ódio têm sido forças motrizes do conflito. Que chegue o dia em que apenas a fé, a devoção e a paz coabitem em uma região de tanta beleza e cultura.