O Congresso Nacional instituiu, por meio da Lei 11.489/2007, o Dia Nacional de Mobilização de Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Mas os homens tornaram o marco legal letra morta. Não se engajaram nessa luta para eliminar as tragédias cotidianas que enlutam famílias e deixam um rastro de crianças e adolescentes órfãos de mãe. O machismo doentio, tóxico e letal ainda se mantém enraizado. A cada seis horas, uma mulher é morta por ser mulher no Brasil.
Mudar essa realidade não é fácil nem depende exclusivamente das feministas, nem das organizações sociais, nem só de políticas públicas. A transformação passa, necessariamente, pelos homens, pelas escolas e, antes de tudo, pela educação na família.
Um velho ditado popular ensina que "costume de casa vai à praça". Filhos que testemunham uma relação de agressões no ambiente doméstico, em que o pai agride a mulher, estão propensos a repetir as mesmas deploráveis atitudes quando adultos com a namorada ou companheira. Cabe ao homem interromper esse círculo danoso à saúde física e mental de sua família. Cabe ao pai educar os filhos com base na cultura de paz. Cabe ao pai mostrar que, por meio do diálogo, é possível superar as naturais divergências de um casal. Atitudes que o colocam como um ser inteligente e que o tornam, verdadeiramente, um homem indispensável à vida de todos.
A mulher também tem papel relevante nesse processo. Ela é capaz de suprimir da educação dos filhos os resquícios do machismo, o falso conceito de que o homem é um ser superior e o único capaz de prover as necessidades da família. Nestes tempos modernos, a mulher tem protagonismo dentro do lar, seja por ter emprego e contribuir para a manutenção da casa, seja por sua formação profissional, seja pelo seu talento, que vai além das atividades domésticas.
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Tanto no Distrito Federal quanto em outras capitais, há grupos de homens que discutem os danos decorrentes do machismo e do patriarcalismo, a violência doméstica e tantos outros hábitos que depreciam a mulher, com apoio psicossocial. Eles buscam fazer a diferença no universo masculino com a reeducação dos seus iguais. Debatem o quanto estão ultrapassados visões e comportamentos que ignoram ou subestimam a capacidade do sexo oposto. São homens lúcidos que condenam essa onda de agressões e feminicídios.
Reconhecem a necessidade de (re)educação de todos, deixando no passado valores que sublimavam o masculino, coisificavam as mulheres e vedava a todas elas os espaços de fala e de poder. Para eles, respeito é palavra e comportamento-chave para a transformação de uma sociedade conturbada, que ignora ou despreza a boa conversa para contornar os impasses ou as diferentes formas de compreensão dos fatos e da realidade.
Embora o número desses grupos seja muito modesto, eles são sinal de que é possível reverter a calamidade do avanço dos "machosfera", que inoculam ódio contra a mulher e tentam perpetuar valores ultrapassados e radicalmente inadequados aos valores civilizatórios indispensáveis ao desenvolvimento humano.
A iniciativa dos homens sensatos e que reconhecem suas limitações pode ser potencializada por políticas públicas atraentes para ampliar o debate sobre as diferentes expressões de violência. Sugere que a discussão deve extrapolar os grupos e chegar às escolas e a todos os cenários possíveis, a fim de mostrar os danos provocados pela desarmonia dentro e fora dos lares. Mas não só isso. Ainda cabe ao poder público patrocinar, por meio de ações, projetos e iniciativas que promovam o empoderamento das mulheres e adolescentes, com o intuito de tornar real a igualdade de gênero. Um basta à violência é uma construção de todos. Homens, mulheres e instituições de Estado, juntos, podem extirpar o machismo e o patriarcalismo.