Em apenas um dia, duas mulheres jovens foram vítimas de feminicídio, e outra sofreu um atentado pelo marido. Lamentavelmente, em menos de três meses, oito mulheres foram assassinadas pelos parceiros, no Distrito Federal — aumento de 150% em relação a igual período do ano passado. A letalidade do machismo disparou na capital da República. Os homens estão doentes, infectados pela ideia de que as mulheres são sua propriedade. Em 2021, Minas Gerais registrou o maior número de casos no país. Neste ano, o governo do estado lançou campanha para o enfrentamento dessa tragédia e concitou a sociedade a colaborar para conter a fúria masculina. Denúncias podem ser feitas, anonimamente, pelo Disque 181.
Em briga de marido e mulher é preciso meter a colher. O velho paradigma contrário a essa orientação foi superado. Diante do avanço da violência, decorrente de relações tóxicas, não cabe mais o silêncio ou a indiferença de vizinhos, parentes e amigos que tomam conhecimento de que uma mulher é ameaçada, agredida e violentada pelo companheiro ou ex-companheiro. Para dar um basta à banalização das agressões às mulheres, torna-se imperativo a participação da sociedade, por meio de denúncias às autoridades sempre que perceber que uma mulher corre o risco de morte. O anonimato é garantido aos denunciantes, por meio dos Disque 197 (Polícia Civil) ou 180.
A violência doméstica é histórica no país. Hoje, o Brasil ocupa a sétima posição no ranking mundial de feminicídios. Os programas governamentais e não governamentais, em sua maioria, tiveram resultados pífios. A legislação se tornou mais severa, mas não conteve a violência por gênero. As mudanças na Lei Maria da Penha e a edição da Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015, que tipificou e inseriu o feminicídio na lista de crimes hediondos, não inibiram as ações agressivas dos homens — o aumento de casos passa a sensação de que, pelo contrário, estimulam as atitudes torpes, em vez de diminuí-las. Na capital federal, o Correio Braziliense promoverá, no próximo dia 7 — véspera do Dia Internacional da Mulher — o debate "Combate ao feminicídio: uma responsabilidade de todos".
Em Brazlândia, região administrativa, distante cerca de 50km do centro de Brasília, foi formada uma rede de proteção e desenvolvido um projeto pelo Ministério Público do DF e Territórios para conter a violência doméstica e evitar que os conflitos acabem em atos extremos. Nos encontros, os homens, convidados por um procurador, passam a compreender a Lei da Maria da Penha, a importância de respeitar a mulher e de cuidar da família. Com a pandemia, os encontros passaram a ser virtuais. A queda nos índices de reincidência caiu muito. As reuniões também são feitas com mulheres, a fim de que conheçam os seus direitos e aprendam a agir diante da violência, ou seja, se empoderem.
A experiência mostra que MPDFT, envolvendo diferentes instituições, é um indicativo de que a educação para a cultura de paz e as ações preventivas levam a bons resultados no combate à violência doméstica, bem como outras formas de agressões. Revelam também que as mudanças são possíveis. Para isso, é fundamental repensar políticas públicas e, efetivamente, executá-las.
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