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Artigo: Que volte a ciência

Espero que deixemos para trás uma dúvida que jamais deveria ter existido: sobre a ciência. Foi icônica a cena do presidente da República sendo vacinado, em um posto de saúde, pelas mãos de um vice que um dia foi seu opositor. Certas coisas não deveriam entrar na esfera política, embora seja ingenuidade acreditar que a mentira e o descaso com a população nunca mais serão usados como ferramenta em benefício de poucos.

Uma parcela da população, infelizmente, sempre resistirá às vacinas, ao cuidado médico e à prevenção. Muitos por falta de acesso à educação — e cabe ao Estado a responsabilidade sobre esse problema. Outros tantos, porém, são levados pelo projeto político do descaso e defendem ideias das quais são os principais prejudicados. Não se engane em achar que todos sofreram igualmente no período agudo da pandemia. Muitos venceram, enchendo os bolsos. Os que perderam, por outro lado, estão nos cemitérios.

Não há discussão sobre a efetividade das vacinas. A poliomielite foi praticamente erradicada no mundo pela vacina. Não temos mais crianças que se vêem obrigadas a lidar com os danos dessa terrível doença, paralisadas para o resto da vida. A covid-19 só foi controlada e parou de matar em massa após várias rodadas de vacinação, o que felizmente ocorreu no Brasil apesar da resistência e da negação fomentada pelas autoridades. Além disso, a marca que muitos têm no braço, fruto da BCG, simboliza a proteção a uma doença que, por muito tempo, foi uma sentença de morte: a tuberculose.

É importante voltarmos a ter autoridades alinhadas com práticas que, historicamente, se mostram eficazes. O investimento em ciência, pesquisa, saúde e em universidades, sempre traz retorno no longo prazo. Avança a capacidade produtiva do país, provê melhores ferramentas para lidar com epidemias e pandemia, melhora a qualidade de vida para a população, e torna o país referência em áreas estratégicas.

Mas isso também é o mínimo. O passo mais importante é garantir que as descobertas científicas cheguem à população vulnerável. Que os mais pobres tenham acesso a vacinas de ponta, que os avanços na área da agricultura levem a alimentos mais baratos e de melhor qualidade, que os estudos em engenharia sejam usados para criar infraestruturas melhores, que resistam às aberrações climáticas que estão se apresentando. Para isso é preciso dar dinheiro aos cientistas, e criar políticas para a aplicação das descobertas.

Quando escrevia sobre ciência para este jornal, conversei com um professor de uma universidade pública sobre o cenário brasileiro, que nunca foi bom. Ele relatou, porém, que é impressionante o que os pesquisadores brasileiros conseguem fazer com os poucos recursos e equipamentos que têm. Conseguem chegar aos mesmos resultados que os estrangeiros, que usam maquinário de ponta, com uma fração do investimento. Que isso sirva não como uma ode ao "jeitinho brasileiro", mas como incentivo para a destinação de recursos às universidades e centros de pesquisa.

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