Na próxima terça-feira, um crime hediondo, cometido no Rio Grande do Sul, completa nove anos. Em 4 de abril de 2014, o menino Bernardo Boldrini foi vítima de seres covardes, malignos. E o principal integrante dessa corja era o próprio pai dele, o que tornou o assassinato ainda mais sórdido.
Segundo o Ministério Público, o médico Leandro Boldrini foi o mentor intelectual da barbárie. E dois júris concordaram com a acusação. No primeiro, em 2019, o homicida foi condenado a 33 anos e oito meses de prisão. O julgamento acabou anulado em 2021 , porque a defesa questionou a postura do promotor quando interrogou o réu. Em novo júri, que ocorreu na semana passada, condenação também, por homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação) e por falsidade ideológica. Infelizmente, a pena foi menor do que no primeiro julgamento: 31 anos e oito meses.
Durante as sessões no tribunal, testemunhas de acusação prestaram depoimentos dolorosos. Mostraram que, antes de darem um fim em Bernardo, o pai e a madrasta o torturavam psicologicamente e o humilhavam, como mostram vídeos da época. Ambos deixavam claro que não havia espaço para ele na família — o casal, à época, tinha uma bebê, da qual, inclusive, o menino não podia se aproximar. A psicóloga que o tratava disse que Bernardo era "órfão de pai vivo", "órfão de uma família ausente". Um garotinho com grande carência afetiva e que tinha um amor imenso pelo pai.
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Amor que era retribuído com desprezo. Bernardo não recebia cuidados em casa, pedia comida a vizinhos, usava roupas velhas. A vizinha que o acolhia chorou tanto ao falar do sofrimento dele que o julgamento chegou a ser interrompido para que ela pudesse se recompor.
Bernardo, 11 anos, foi assassinado com superdosagem de medicamento. O corpo, colocado num saco plástico e descartado numa cova em um matagal. A madrasta, apontada como executora da atrocidade, foi condenada, em 2019, a 34 anos e sete meses de prisão por homicídio quadruplamente qualificado e ocultação de cadáver. A amiga dela, que participou do crime, recebeu pena de 22 anos; e o irmão da amiga, que cavou a cova, nove anos.
Sentenças muito leves. E o pior: nem isso eles vão cumprir, graças a nossa legislação "penal", que prevê uma série de benesses para criminosos. A amiga da madrasta, por exemplo, já está em regime semiaberto desde maio do ano passado. O irmão dela conseguiu condicional 10 dias após o julgamento de 2019. Os dois principais homicidas, portanto, também não tardarão a voltar às ruas.
Para mim, estupradores, torturadores e assassinos de crianças e adolescentes deveriam ficar enjaulados pelo resto de suas vidas miseráveis. Lamentavelmente, a Constituição veda penas de caráter perpétuo. Mas nem as sentenças previstas na lei são cumpridas em sua totalidade, por causa das progressões de regime. É desolador que seja assim, e que nada mude.
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