Nos últimos três anos, fomos forçados a comprar, mesmo sem pagar, um combo nada atraente. Uma pandemia, que trouxe como brindes o isolamento e o luto, as mudanças abruptas no trabalho e a exaustão, que, para alguns grupos, como as mulheres, já não era pouca.
O mau negócio trouxe prejuízos em série, e ainda estamos pagando a conta. O maior deles foi um abalo sísmico na saúde mental. No país que está no pódio da ansiedade e do estresse, somamos a Síndrome de Burnout e o fenômeno de quiet quitting, ou demissão silenciosa, que atinge e preocupa as corporações.
Reportagem do caderno Trabalho & Formação Profissional, publicado hoje, aponta que, no Brasil, em 2021, mais de 75 mil pessoas se afastaram do trabalho por conta de problemas mentais. De acordo com a International Stress Management Association (Isma), somos o segundo país com mais casos de Síndrome de Burnout, um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante.
Os líderes de organizações em todos os lugares do mundo estão sendo forçados a lidar com a situação como um fator de risco extremo e, enfim, olhar para as pessoas, que são o maior ativo de qualquer empresa. São várias as iniciativas para enfrentar o problema, mas ainda são embrionárias e teóricas.
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Porém, sabemos que dificilmente sairá das corporações todo o conjunto de soluções para tirar as pessoas de seus momentos de crise. Existe aquela parcela de responsabilidade que vem de casa — a física, com tantos compromissos domésticos e familiares, e também a íntima, a angústia que mora em cada um de nós por problemas diversos e normalmente de difícil solução.
A mão do patrão que puxa do buraco é importante. O abraço da amiga, também. A atividade física é essencial para soltar a tensão. O mergulho na terapia é o bálsamo que proporciona autoconhecimento e nos ajuda a discernir o que queremos, o que podemos e o que devemos ser e fazer. Esse é o combo que vale cada centavo de investimento.
O estresse, a ansiedade, a depressão e o cansaço extremo vêm desse scroll infinito que se tornou a vida. Vamos passando pelas coisas sem nem nos darmos conta. Já não vemos sentido nessa superficialidade toda de redes sociais, mas é viciante. Já não encontramos propósito no trabalho, mas ficamos.
Se conseguirmos olhar para cada partezinha da vida com alguma profundidade e um tanto de boa vontade, daremos um passo para reconhecer a parcela que nos cabe e poderemos ter mais lucidez para fazer as escolhas certas e conseguir reduzir os danos.
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