NULL
Opinião

Artigo: Parceria de sucesso

O presidente Lula vai a Pequim no final deste mês para se encontrar com o líder Xi Jinping, no início de seu terceiro mandato, acompanhado pelos presidentes da Câmara, do Senado, mais 34 políticos e 200 empresários (cada um deles paga as próprias contas)

Lula com o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao -  (crédito:  Ricardo Stuckert/PR)
Lula com o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
postado em 20/03/2023 06:00

ANDRÉ GUSTAVO STUMPF — Jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

Em 1961, o vice-presidente João Goulart fez uma visita oficial a Pequim, na China, o que, na época, era atitude incrivelmente desafiadora e ousada. Tão ousada que o presidente Jânio Quadros aproveitou a oportunidade e renunciou a seu mandato de maneira a colocar seu vice, que tinha boas relações com a esquerda, numa posição política quase insustentável. Os principais chefes militares brasileiros não admitiam a hipótese de um comunista assumir a Presidência da República.

Uma longa negociação foi realizada, enquanto Jango, como era conhecido o vice-presidente, percorria extenso trajeto de retorno ao país. Finalmente, o acordo costurado entre o general Orlando Geisel e o deputado Tancredo Neves resultou na criação de um regime parlamentarista, no qual o mineiro se transformou em primeiro-ministro, e João Goulart, o presidente sem os poderes do cargo. O acordo durou pouco tempo, o parlamentarismo naufragou, Jango assumiu o poder na sua totalidade e veio o golpe militar.

As relações entre os dois países foram interrompidas em 1949, quando Mao Tsé Tung venceu a Revolução e implantou o sistema comunista. Os rebeldes nacionalistas se refugiaram em Formosa, agora chamada Taiwan, território que foi reconhecido como a única China pelo mundo ocidental. O Brasil seguiu a orientação da política externa dos Estados Unidos. O mundo vivia a Guerra Fria, que opunha Estados Unidos e União Soviética.

A China, a parte mais fraca nesse contexto, tinha enormes dificuldades de relação com seu vizinho soviético. Já naquela época, cada um deles tinha uma visão particular do que seria um verdadeiro país comunista. A União Soviética desapareceu e a China, por intermédio de uma surpreendente aliança com os Estados Unidos, emergiu como uma das economias mais fortes do planeta. Nesse contexto, o governo do presidente Ernesto Geisel decidiu estabelecer relações com a China comunista, deixar de reconhecer Taiwan e iniciar uma parceria comercial que se demonstrou extremamente positiva ao longo das últimas décadas. A relação Brasil-China supera hoje em números folgados o comércio com os Estados Unidos.

Tudo aconteceu de maneira muito sigilosa. No prédio do Itamaraty, em Brasília, há, no subsolo, um apartamento completo destinado a atender o ministro de Estado, caso ele queira descansar sem ser incomodado. Os chineses foram acomodados naquele espaço e transitaram em silêncio pelos corredores. O então assessor de imprensa, conselheiro Luís Felipe Lampreia, mais tarde ministro de Relações Exteriores, instalou uma televisão à disposição dos jornalistas quando jogava a Seleção Brasileira de futebol. Prendeu a atenção dos repórteres. Ninguém percebeu a movimentação dos chineses. Até que, em 15 de agosto de 1974, o comunicado oficial anunciou que o Brasil e a China Comunista estabeleciam relações diplomáticas e comerciais. Foi um susto. Os comandantes militares da época se apressaram em qualificar o general Geisel de comunista e chamar o ministro Azeredo da Silveira de chanceler vermelho. Mas o ato estava consumado. Não haveria retorno.

Há quase 50 anos, o produto interno bruto do Brasil era superior ao da China, um país agrário, pobre e periférico. Assustava pelo tamanho de sua população e as dimensões de seu exército. A relação do Brasil com Pequim tem crescido sem encontrar barreiras à sua expansão. As dificuldades foram criadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seu controvertido ministro de Relações Exteriores, auxiliado pela ignorância dos filhos do ex-presidente. Eles assumiram o mesmo papel crítico, pouco esclarecido, daqueles comandantes militares que criticavam o presidente Geisel em 1974.

A China absorveu US$ 91,3 bilhões das exportações brasileiras em 2022. Em segundo lugar, aparece a União Europeia com US$ 51bilhões e, em seguida, os Estados Unidos com US$ 37,4 bilhões, e, em quarto lugar, surge a Argentina com US$ 15,4 bilhões. As exportações de 2022 alcançaram o total de US$ 335 bilhões, crescimento de 19,3% na média diária exportada, em relação a 2021. Os chineses querem fazer negócios. Não estão interessados em exportar revolução. Os extremistas brasileiros foram vencidos pela realidade. A mais recente invasão chinesa é de veículos automotores elétricos. Eles estão desembarcando em São Paulo e na Bahia.

Por essas razões, o presidente Lula vai a Pequim no final deste mês para se encontrar com o líder Xi Jinping, no início de seu terceiro mandato, acompanhado pelos presidentes da Câmara, do Senado, mais 34 políticos e 200 empresários (cada um deles paga as próprias contas) que representam 140 segmentos da economia nacional. A expectativa é uma chuva de acordos comerciais.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para contato. Clique aqui e mande o e-mail.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->