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Opinião

Artigo: Exigências da atualidade: paciência, coragem e sabedoria

Há pouco tempo, finalizou-se o estímulo do fundamentalismo bolsonarista. Com ele, o brasileiro inclinou-se a odiar segmentos democráticos e libertários, radicalizando atitudes não assumidas desde o fim da Segunda Grande Guerra

Em outubro, perda de vegetação nativa foi de 904km² -  (crédito:  AFP)
Em outubro, perda de vegetação nativa foi de 904km² - (crédito: AFP)
postado em 20/03/2023 06:00

ALDO PAVIANI — Geógrafo, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Núcleo do Futuro e do Núcleo de Estudos Urbano e Regionais (Ceam/UnB)

Com as turbulências sociopolíticas ocorridas no Brasil, nos últimos anos, espera-se mudança de atitude por parte da população mais consciente e politizada. Não pode essa população se manter atrelada aos esquemas truculentos e estimulados por quem tinha o mando do país, sem a noção de que o brasileiro já foi chamado de povo cordial por Ribeiro Couto, ideia popularizada por Sérgio Buarque de Holanda no livro Raízes do Brasil, de 1936.

Há pouco tempo, finalizou-se o estímulo do fundamentalismo bolsonarista. Com ele, o brasileiro inclinou-se a odiar segmentos democráticos e libertários, radicalizando atitudes não assumidas desde o fim da Segunda Grande Guerra. Com a evolução do processo socioeconômico e político, o brasileiro se manteve sensato, mesmo em momentos complicados, quando passamos da carência alimentar para ser um dos países com grande potencial exportador de alimentos para outras partes do mundo. Naqueles momentos difíceis, o brasileiro se mostrou paciente com o que havia para se alimentar, com mandioca, feijão e arroz. A proteína animal só de vez em quando.

A carne passou a ser alimento de alguns privilegiados, geralmente das classes abastadas, e só recentemente se tornou mais acessível com a divulgação de um programa picanha para todos, embora não se tornasse muito generalizado. Todavia, muitos foram beneficiados pelo acesso a outros tipos de proteínas, geralmente frango e alguns tipos de peixes de menor pedigree.

Por isso, a população teve melhor alimentação, inclusive quando o leite passa a fazer parte da merenda para estudantes da escola fundamental. Assim, a paciência, aliada à coragem, oriunda da sabedoria popular, o brasileiro favoreceu o processo democrático visando à mudança do paradigma de radicalização vigente e preferiu, não por grande margem de votos, assumir atitudes democráticas condizentes a país líder na América Latina. E se mantiver essa posição por muitos anos, a democracia se fortalecerá e se consolidará como desejamos.

A sabedoria da população apoiou a efetivação da Assembleia Nacional Constituinte, quando promulgamos a Carta Magna de 1988 — esteio da legislação que manteve a democracia até nossos dias. Houve algumas emendas para ajustamentos aos diversos momentos políticos, mas nada alterando sua essência. Com isso, vamos seguindo no rumo do que se designou ser o Brasil, o país do futur, seja qual for o tempo para chegar ao almejado futuro. A sociedade e os segmentos políticos sensatos podem desenhar mapas estratégicos para chegar a esse futuro sem muitas delongas, pois também se afirma que o futuro é logo ali.

Em vista dessa incógnita, temos que nos fortalecer com coragem e determinação em busca de dias melhores e reduzir drasticamente os milhões de famintos que ainda mancham o Brasil, que mantém uma posição de ser o país que alimenta o mundo com exportações. Deveríamos estabelecer um limite acima do qual a agroexportação não mais avance. Isso será realizado para continuar a ter o lema "a população brasileira em primeiro lugar", como se faz em muitos países, sobretudo da América do Norte, onde se consideram os americanos em primeiro lugar ou americans first. Essa seria medida a se tomar para que nenhum brasileiro passe fome — hoje e no futuro.

Igualmente importante será não paralisar a produção de alimentos, pois o país possui terras próprias para cultivos em todas as regiões. Com isso, a sociedade e os governantes (legislativos aí incluídos) terão uma atitude com essa perspectiva. Aproveitar as terras sem ampliar a destruição do verde amazônico nem as terras do cerrado, que é um grande bioma possuindo um quarto do território brasileiro.

Esse espaço necessita ser mais bem aproveitado, uma vez que possui os grandes rios formadores das três maiores bacias hidrográficas do país. Essa grande drenagem é importante para a irrigação das lavouras e poderá ampliar a produção em pequenas e grandes propriedades. Ademais, indica-se que seja feito rodízio no aproveitamento das terras ou um descanso entre cultivos. Deixar o verde se reinstalar em largas porções do território. Isso provavelmente é feito quando os agrônomos dão apoio aos agricultores do Brasil afora. Com isso, propiciaremos mais alimentos, colaborando com a preservação ambiental. É isso que se deseja para o país de hoje e do futuro.

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