RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA - Advogado, presidente da Academia Paulista de Letras jurídicas (APLJ)
Tem sido frequente a publicação de reportagens sobre o crescente desprezo aos escrúpulos e aos princípios éticos na construção de carreiras profissionais e nas estratégias pessoais em busca de prestígio, ascensão e poder. Não se pode aceitar essa nefasta tendência como um desígnio inexorável da competitividade imposta às pessoas e às empresas pelo fenômeno da globalização. Um dos ativos mais importantes de uma empresa é a ética. Como lembra Bernardo Toro, um dos maiores pensadores do terceiro setor, "é o momento de as empresas perceberem que, com o crescimento da sociedade civil organizada, precisam assumir cada vez mais seu papel na transformação social".
Indiscutivelmente, a ética é o bem mais importante e o mais rentável de uma sociedade. É a arte de tomar decisões que convenham à vida dos demais. Se um dia todos se tornassem éticos, sobrariam recursos. O relevante para a sobrevivência são os bens sociais, o ativo social, e não os materiais. O desenvolvimento não pode mais ser encarado em termos meramente materiais ou sob o prisma do consumo. O crescimento vertiginoso das organizações não governamentais significa o descobrimento da mais importante de todas as ciências, que é saber organizar-se. É o segredo de uma sociedade.
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As empresas descobriram que, quanto mais enriquecem o seu entorno, melhor. Antes, acreditavam que se ganhassem sozinhas, melhor. A lógica anterior permitia acumular muita riqueza em poucos lugares e distribuir muita pobreza em outros. Era a lógica da ganância e do egoísmo. Agora, a lógica mostra que se os outros não vão bem, eu também não vou. É a lógica da fraternidade e da solidariedade.
A economia se internacionalizou, se globalizou, mas o conceito de responsabilidade social não foi nem será globalizado. Este século, por mais que tente agir ou provar em contrário, está modificando a história do mundo corporativo, priorizando valores como ética, moralidade, transparência e boa governança corporativa e fortalecendo as empresas que adotam tais valores. Os relatórios e demonstrativos dos resultados das companhias mostram a preocupação com a responsabilidade social e o engajamento dos dirigentes e do corpo funcional com os projetos em execução nas mais diversas áreas: voluntariado, comunidade, educação, saúde, cultura, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, apoio à criança, ao adolescente, à terceira idade e aos portadores de necessidades especiais.
Todo esse processo de assunção da responsabilidade social das organizações privadas relaciona-se às boas práticas da chamada governança corporativa, que conquistou o cenário do mundo dos negócios. Trata-se do conjunto de práticas adotadas na gestão de uma empresa, que afetem as relações entre acionistas, diretoria, conselhos de administração, consultivo e fiscal. As companhias modernas que têm crescido sob todos os aspectos são as que se aproximam das melhores práticas de governança corporativa.
A gestão empresarial brasileira se alinha aos melhores e mais éticos modelos de gestão do mundo. É preciso conter na raiz tendências deturpadas sobre o arquétipo de executivo vencedor que, às vezes, se cultiva no interior das empresas e — o que é mais grave — se passa à opinião pública. Os responsáveis porfraudes contábeis tinham essa distorcida imagem de vencedor, mas prejudicaram centenas e centenas de acionistas, muitos deles dependentes do rendimento das ações dessas empresas. Tudo isso demonstra a importância da prevalência da ética nas empresas e na sociedade contemporânea.
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