Robson Braga de Andrade - Empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
As empresas industriais brasileiras estão, cada vez mais, empenhadas em promover o aumento da participação feminina na composição de seus quadros de trabalhadores, tanto nas linhas de produção quanto em cargos gerenciais e de chefia. Não apenas pelo imperativo moral, em favor de uma maior equidade social e da efetivação de direitos, mas também pelo aumento da competitividade que diferentes visões e experiências trazem para os negócios.
Atualmente, as mulheres respondem por um quarto da força de trabalho na indústria nacional. Dados do Observatório Nacional da Indústria, da CNI, mostram que, entre 2008 e 2021, houve um aumento da participação delas em cargos de gestão no setor, passando de 24% para 31,8%. Apesar de o índice ser ainda inferior aos demais setores da economia, nos quais as mulheres respondem por quase metade (46,7%) das funções de liderança, na indústria o crescimento foi três vezes maior nesse período: avançou 32,5% contra 9,8% nos demais setores.
Pesquisa inédita realizada pela CNI, divulgada nesta semana em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher, revela que, de cada 10 indústrias brasileiras, seis contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero, sendo que 61% afirmam tê-las há mais de 5 anos. A pesquisa — que ouviu mil executivos industriais, sendo 40% mulheres — mostra, também, que 57% dos entrevistados dão importância alta ou muito alta às políticas de gênero. Entre os instrumentos mais usados pelas empresas, estão a política de paridade salarial (77%), a proibição de discriminação em função de gênero (70%), os programas de qualificação das mulheres (56%) e o estímulo à ocupação de cargos de chefia (42%).
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Principal representante do setor no Brasil, a CNI, que tem quatro de suas sete diretorias executivas ocupadas por mulheres, vem trabalhando para ajudar as empresas nesse movimento. Em 2022, criou-se o Fórum Nacional da Mulher Empresária, que tem como objetivo principal estimular a expansão da presença feminina na economia. Entre outras ações, o fórum tem identificado as melhores práticas internacionais no que diz respeito ao empreendedorismo entre as mulheres e à igualdade de condições no mundo do trabalho para incentivar sua adoção no país.
Também no ano passado, o Senai e o Sesi, coordenados pela CNI, colaboraram ativamente na implantação da Estratégia Nacional de Empreendedorismo Feminino — Brasil para Elas, do governo federal, oferecendo vagas gratuitas em cursos de qualificação presencial e a distância. Foram realizadas caravanas em 14 estados, com 15 mil mulheres capacitadas. O plano das duas entidades é ampliar a atuação na educação profissional das mulheres em todo o país, o que dará um impulso à diversidade de gênero nas indústrias.
Como há uma tendência de crescimento na oferta de ocupações nas áreas de ciências, engenharia e matemática, com estimativa da abertura de 180 mil oportunidades até 2025, é preciso que haja incentivos para a inserção de mulheres nessas carreiras. Isso aumenta a importância da contribuição do Sesi e do Senai na formação feminina em profissões que integram a Indústria 4.0 (novas formas de produção condicionadas pela digitalização da economia) e em atividades tradicionalmente consideradas masculinas.
A igualdade de gênero e a plena participação feminina na vida econômica estão entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), com os quais o Brasil se comprometeu. Os 12 países que, por enquanto, garantem direitos iguais entre homens e mulheres são membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), instituição na qual o Brasil está em processo de adesão. Precisamos nos aproximar das práticas dessas nações nessa área.
Esses países destacam-se por ações de recrutamento ativo de mulheres para posições de liderança e pelo aumento da transparência das empresas quanto à divulgação de suas políticas de remuneração, além de mentorias, formação de redes e programas de capacitação. Segundo a OCDE, é necessário diminuir preconceitos e estereótipos na educação, revisando materiais didáticos, treinando professores e encorajando meninas a seguirem carreiras nas áreas de ciências exatas.
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No Brasil, a exemplo do que ocorre em outros países de renda baixa ou média, um dos principais obstáculos ao aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho formal é a oferta de creches. A existência de vagas em creches de melhor qualidade por valores acessíveis é fundamental para que as profissionais possam se dedicar à carreira com tranquilidade. A OCDE também recomenda a adoção de modalidades de trabalho mais flexíveis, com incentivos para que sejam utilizadas, de forma igualitária, por pais e mães.
O Brasil ainda é um país com grande diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho, com muito a ser feito para assegurar paridade na ocupação das vagas e nas remunerações em funções iguais. A promoção da igualdade de gênero na indústria é um compromisso inarredável para reforçar a cidadania e a participação das mulheres na economia. As empresas que adotam a diversidade e a inclusão são mais inovadoras, dinâmicas, colaborativas e têm um melhor clima organizacional. Por isso, a tendência é que, felizmente, as mulheres ganhem cada vez mais espaço em todas as atividades.
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