Desde que foi inaugurada, em 1960, a Rodoviária do Plano Piloto de Brasília, uma das maiores do Brasil, acumula problemas de vazamento quando chove na cidade. Noventa por cento das passagens de pedestres, subterrâneas, da cidade, desde que foram inauguradas, nunca foram totalmente utilizadas pela comunidade. Escuras, esburacadas e sem segurança servem de abrigo a desocupados. Vez por outra um governo de plantão passa por lá e faz remendos. Nunca resolve.
O caos no sistema de saúde de Brasília, todos sabem disso, há anos virou piada nacional. Na boca do povo, a ponte aérea virou nosso melhor hospital durante anos. Aqui, nas páginas do Correio, milhares de leitores já leram mais de uma centena de denúncias sobre essas mazelas da saúde. Até seminários e encontros de secretários de saúde visando resolver o problema já aconteceram. Nenhuma mudança radical, as filas nos postos de saúde e UPAs aumentam, as famílias pobres choram e suas feridas estão abertas.
Vez por outra, para não dizer que não se quebra rotina, a polícia prende alguém do setor, e tome explicação do governo que não leva a nenhuma mudança. O Hospital de Base, outrora sinônimo de competência e respeitabilidade pela estrutura e corpo médico, hoje expõe suas vísceras, mostrando baratas, infiltrações e lixo pelos cantos, num desanimador cenário que nada nos enaltece, muito pelo contrário. As recentes denúncias, todas comprovadas, estão aí pra todo mundo ver, nas telas da TV, nas páginas dos jornais e nas redes sociais. Entra governo e sai governo, a toada é a mesma, a saúde pública da capital está no centro das crises.
A população se amontoa no transporte coletivo, com ônibus mal lavados, linhas desalinhadas e passageiros uns sobre os outros num cenário muitas vezes macabro e sofrido. Quem conhece os caminhos e becos desta cidade sabe exatamente o que estamos relatando. Os problemas ganham corpo e avançam sem perspectiva de melhoras.
Os brasilienses ainda contam com a possibilidade de terem seus créditos do cartão de mobilidade automaticamente confiscados. Isso porque o GDF manteve a decisão de limitar a validade dos créditos não utilizados no transporte público do DF. Com a medida, os cartões de mobilidade e vale-transporte do Sistema de Bilhetagem Automática que não tiverem utilizados seus saldos em viagens de ônibus e metrô, dentro no período de um ano, terão seus valores retidos.
Além disso, os moradores da capital já nem dispõem mais das benesses das escadas rolantes da rodoviária, elas emperram mais do que funcionam, virou lenda. Agora, temos um problema novo e com um charme de cidade grande: paralisação do metrô. E olha que o nosso metrô não é lá desse tamanho todo.
O governo alega que tem gente roubando cabos de energia, o que nos arremete para o insolúvel problema de segurança pública. PM e Polícia Civil disputam um incrível troféu pra saber em quem a comunidade acredita menos. O comércio criminoso desse constante roubo de cabos de energia é outro problema que a polícia tem que resolver, ou explicar por que não resolve.
Difícil para a comunidade entender que há na localidade uma organização que age na calada da noite, ou à luz do dia, roubando fios e cabos de força aos quatro cantos da cidade para derreter e fazer disso um meio de vida. Ao se confirmar a suspeita, bandidos renderam uma comunidade inteira, fizeram a festa, a população pagou o prejuízo.
O metrô demorou sete horas para dar uma explicação, não achou alternativa, e a população engoliu, calada. Há que buscar gente competente para administrar esta cidade, gente que saiba o que é gestão da coisa pública. Com sensibilidade, dedicação e sabedoria. Muito triste e desanimador imaginar que talvez um dia teremos todos aqueles problemas da antiga capital Rio de Janeiro. Para os cariocas, pelo menos, há um consolo. Mesmo moribundo, o Rio de Janeiro continua lindo.
* José Natal é jornalista
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