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Opinião

Artigo: Com pés, mas sem cabeça

Oitenta e quatro dias depois da eliminação contra a Croácia, o projeto do Brasil para a Copa de 2026 tem pés, mas não cabeça

Seleção brasileira -  (crédito: Reprodução/Instagram)
Seleção brasileira - (crédito: Reprodução/Instagram)
postado em 04/03/2023 06:00 / atualizado em 04/03/2023 10:53

O ciclo do Brasil rumo à Copa de 2026 nos Estados Unidos, Canadá e México começou mal. A convocação para o amistoso contra Marrocos no próximo dia 25 foi no mínimo constrangedora. Ramon Menezes faz belo trabalho na Seleção Sub-20. Sob a batuta dele, o Brasil conquistou o Sul-Americano no mês passado, na Colômbia, e irá ao Mundial da categoria, na Indonésia, como um dos favoritos. O ex-meia de 50 anos é um técnico estudioso, promissor, mas não havia a menor necessidade de a Seleção iniciar o projeto do hexa recorrendo a um treinador interino.

Por que o atraso? Em entrevista ao programa Redação SporTV exibido em 25 de fevereiro de 2022, Tite revelou que deixaria o cargo depois do Mundial do Catar independentemente do resultado. O que a CBF deveria ter feito? Elaborado um projeto com início, meio e fim para colocá-lo em prática a partir de janeiro de 2023. O programa é a definição do perfil do novo técnico, o estilo de jogo desejado, os conceitos táticos, a contratação do profissional, a criação de elos das seleções de base à adulta, com inserção gradativa dos jovens talentos no elenco principal a fim de não queimá-los. Houve tempo de sobra.

Oitenta e quatro dias depois da eliminação contra a Croácia, o projeto do Brasil para a Copa de 2026 tem pés, mas não cabeça. Há muito talento, como ostenta a lista de Ramon Menezes, mas falta um líder, um plano, uma ideia a seguir guiada ao menos por um diretor de seleções. Nem isso existe. Há, sim, uma ideia fixa, uma obsessão pela contratação de um técnico estrangeiro. Mais do que isso: o sentimento de que esse profissional desembarcará no país com uma varinha de condão — e imediatamente os problemas serão resolvidos.

Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018) foram campeãs da Copa porque tinham um norte. Havia talento e programa com metas estabelecidas. O processo alemão se inspirou no espanhol. Alcançou o terceiro lugar em 2006 e em 2010, e levou o caneco no Brasil, em 2014, na conquista do tetra. A CBF cobiça técnico importado para ganhar o hexa em 2026 ou em nome de um projeto perene como o da França, que formou uma geração em Clairefontaine, colheu um título e um vice em oito anos; e ostenta talento de sobra para brigar pelo tri em 2026, 2030...

Há sempre quem defenda o empirismo ou fazer um CTRL C CTRL V na fórmula do sucesso do vizinho vencedor. Sim, a campanha do tri da Argentina começou com Lionel Scaloni de técnico interino, porém havia um tal de Messi absurdamente comprometido em acabar com o jejum de 36 anos.

A primeira convocação do Brasil mostra uma CBF que tudo quer, mas nada tem por enquanto. A lista exibe jogadores com idade para o Mundial Sub-20, Paris-2024, Copa de 2026. No entanto, a 1.191 dias da abertura do Mundial, não temos projeto nem técnico. Quando a cabeça não pensa, o corpo padece.

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