EDITORIAL

Visão do Correio: Geração covid precisa de ajuda

Um relatório recente divulgado pelo Banco Mundial traça um cenário sombrio para crianças e jovens do Brasil e de diversos outros países. O documento, intitulado Colapso e Recuperação: como a pandemia de Covid-19 deteriorou o capital humano e o que fazer a respeito, detalha o impacto devastador da doença na educação e no acesso ao emprego para a geração de 0 a 24 anos. Ao analisar como a pandemia afetou o desenvolvimento cognitivo e educacional dessa parcela da população, o estudo concluiu que a os estudantes de 2023 podem perder até 10% dos seus ganhos futuros em razão da doença. No caso das crianças, o déficit cognitivo ameaça resultar em uma perda de até 25% dos rendimentos quando elas atingirem a idade adulta. Eis o retrato da geração covid.

O extenso relatório do Banco Mundial detalha como a pandemia, uma calamidade em escala global, promoveu um choque na formação do capital humano. Entende-se por capital humano o conhecimento, as competências e a saúde que o indivíduo acumula ao longo da vida em sociedade. É o capital humano que permitirá aos países trilhar o caminho do desenvolvimento, cada vez mais desafiador, considerando a necessidade de se implementar uma agenda em favor da sustentabilidade.

Ocorre que a pandemia de covid-19 prejudicou enormemente duas bases essenciais para a criança e o jovem: a escola e o emprego. Além de afastar os alunos da sala de aula e submetê-los ao limitado ensino remoto, a emergência sanitária resultou no fechamento de postos de trabalho para quem está engatinhando na vida profissional. O Banco Mundial chama a atenção, em particular, para o crescimento preocupante da geração "nem-nem", uma leva de cidadãos que não estuda nem trabalha. Ainda segundo a instituição, as consequências de um jovem estar desempregado ou em um trabalho mal remunerado podem durar 10 anos.

Embora não tenha sido destacado pelo relatório do Banco Mundial, é preciso acrescentar a esse diagnóstico a realidade dos órfãos da pandemia. Estima-se que, no Brasil, mais de 40 mil crianças perderam a mãe nos anos mais críticos da pandemia. Trata-se de um público ainda mais vulnerável, pois, além de passar pelas dificuldades inerentes à educação e ao trabalho, enfrenta o trauma de ter perdido um ente querido de forma trágica e abrupta.

Ante o cenário que se assemelha a um retrato de pós-guerra, o Banco Mundial preconiza o óbvio. É preciso uma ação profunda e permanente do poder público para resgatar a geração covid. O trabalho passa pela reformulação dos currículos e fortalecimento do ensino a fim de compensar as perdas de aprendizagem, além de investir em mais cursos de capacitação de modo a oferecer mais oportunidade a quem teve o futuro golpeado pela pandemia de covid-19. Esse desafio se impõe particularmente para o Brasil, que registrou um histórico devastador da pandemia, com mais de 600 mil mortos e escolas fechadas por mais de um ano para o ensino presencial.

Registre-se, ainda, que essa missão não se limita ao poder público. Por questão de necessidade e empatia, a sociedade civil precisa se mobilizar em favor da parcela da população mais penalizada pelas mazelas da covid-19. Uma criança com déficit de aprendizagem ou um jovem desempregado é um problema que afeta a todos, direta ou indiretamente. Essa responsabilidade também recai sobre a família, que não pode esperar tudo do governo ou de terceiros e tem o dever de se esforçar para assegurar um futuro para uma geração, ou ao menos de ajudá-la a superar obstáculos de tamanha grandeza que se colocam à frente.

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