Opinião

Artigo: Startups da floresta criam soluções inovadoras e geram riqueza sustentável

A Amazônia é um patrimônio do Brasil, mas os caminhos para transformar esse tesouro em bem-estar para as pessoas, de forma justa e equilibrada, ainda encontra desafios

PAULO RENATO — Gerente de Inovação do Sebrae Nacional

O empreendedor e doutor em Farmácia de produtos naturais Ricardo Araújo estima que uma das árvores que ele usa em sua pesquisa sobre a ibogaína, um fármaco utilizado no tratamento de dependentes químicos e doenças degenerativas, como o Alzheimer, deva valer cerca de R$ 10 milhões. Até então, essa árvore encontrada nas florestas do Acre era cortada e sua madeira utilizada para produzir cercas de fazendas, sendo cada peça vendida entre R$ 2 e R$ 3. Agora, a perspectiva que se abre com a agregação do empreendedorismo inovador é manter não somente a floresta de pé, mas investir no plantio e salvar vidas.

Também no Norte, em Rondônia, o empreendedor Diego Hungria desenvolveu a técnica de plantio de árvores nativas da floresta por meio de um manejo inteligente com sistemas de geoprocessamento e tecnologias inovadoras, com foco em áreas devastadas ou suprimidas. Em Roraima, para preservar os açaizeiros e apoiar a produção local com mais produtividade e segurança para o trabalhador, empreendedores de Boa Vista criaram um equipamento robótico que sobe nos pés de açaí e corta os cachos desse alimento, tudo em menos tempo e com total segurança para os trabalhadores. O robô coletador de açaí foi produzido na Amazônia por empreendedores que acreditam no uso da tecnologia como meio de preservar a floresta e, ao mesmo tempo, gerar receita.

Ali perto, no Pará, o empreendedor Luiz Moura produz superalimentos com os ativos da floresta — ele inventou o conceito dos quintais florestais, para que as famílias da Floresta Nacional dos Tapajós preservem o espaço onde vivem e produzam alimentos para o mundo. Cada hectare pode render R$ 1,5 milhão por ano para as famílias das comunidades locais — valor é mil vezes superior ao hectare de outro "quintal" plantado em uma área onde a floresta foi derrubada para a produção de soja. Agora, Luiz e vários parceiros da região de Belterra (PR) vão estabelecer um polo de bioeconomia.

Todas essas histórias têm em comum a origem amazônica e o empreendedorismo. Além dessas empresas, o Sebrae apoiou outras 230 startups da floresta, negócios criados por empreendedores determinados e visionários, que transformam o potencial das matas em riqueza sustentável e com a preservação ambiental. Nossa tese para a preservação da floresta e os demais biomas do Brasil é o empreendedorismo inovador, a pesquisa e o desenvolvimento.

O programa Inova Amazônia é uma grande aliança dos estados do Norte do Brasil em prol da bioeconomia. Para ampliar ainda mais o seu alcance, o Sebrae também está conduzindo no Pará, com apoio de parceiros, o Polo de Bioeconomia da Amazônia — um arranjo de empresas, universidades, empresários e startups. A proposta é reproduzir a ação nos demais estados do Norte.

A Amazônia é um patrimônio do Brasil, mas os caminhos para transformar esse tesouro em bem-estar para as pessoas, de forma justa e equilibrada, ainda encontra desafios. A nossa experiência demonstrou que o empreendedorismo inovador e as startups da floresta são um novo caminho para o desenvolvimento sustentável do país.

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