Os brasileiros formam a maior colônia de imigrantes em Portugal. Dados oficiais, divulgados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), apontam que são 233,1 mil cidadãos, um terço de todos os expatriados que escolheram morar no país europeu. Há, no entanto, mais de 100 mil pessoas oriundas do Brasil vivendo irregularmente em território luso à espera da autorização de residência, algumas na fila há dois anos. Esses indocumentados estão entregues à própria sorte. Para sobreviver, aceitam o subemprego, ganhando menos de um salário mínimo por mês, de 760 euros (R$ 4,3 mil). Como não podem alugar imóveis, amontoam-se em dormitórios em péssimas condições. Alguns, em situação mais extrema, alugam apenas a cama — um dorme de dia, ou outro, de noite.
Mesmo entre os legalizados, há os que sofrem as agruras de viver em outro país. Como a inflação em Portugal disparou nos últimos dois anos, puxada, sobretudo, pelos preços dos alimentos e pelas tarifas de energia elétrica, não conseguem fechar as contas do mês. Há, ainda, famílias impossibilitadas de matricular as crianças nas escolas porque, por falta de pessoal, a Embaixada do Brasil não reconhece a tempo a equivalência de notas entre os colégios brasileiros e os portugueses. São mais de 5 mil processos encalhados na embaixada, demora que também prejudica jovens que são obrigados a abrir mão de trabalho porque não têm como comprovar a escolaridade pedida para as vagas disponíveis.
Desamparados, esses brasileiros — vários deles enganados por influencers que vendem Portugal com um Eldorado — fazem um apelo para que o governo aja no sentido de lhes dar o mínimo de suporte. No caso da equivalência das notas, a embaixada afirmou que lançará, em breve, um app que permitirá que o serviço seja realizado em até uma hora. Quanto aos demais problemas, será preciso uma ampla ação das autoridades para que a regularização dos indocumentados ocorra de forma célere. A expectativa é de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva feche um acordo com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, na reunião de cúpula entre os dois países marcada para abril próximo.
Muitos dos imigrantes que deixaram para trás família e amigos se mudaram para Portugal na esperança de uma vida melhor. Com o desemprego alto, violência absurda e falta de perspectivas no país em que nasceram, esses brasileiros acreditaram que poderiam mudar suas histórias. Infelizmente, colheram apenas frustração. Portanto, está na hora de o Brasil voltar a ser uma nação de oportunidades, com serviços públicos de qualidade, segurança e mobilidade social. Não é possível que o desencanto impere, empurrando para fora cidadãos que têm tudo para contribuir para a geração de riqueza no país.
Logo após a sua vitória nas urnas, Lula passou por Portugal e, num dos discursos que fez a apoiadores, os convidou para retornar ao Brasil com o argumento de que, agora, teriam dignidade. Infelizmente, o país ainda está longe de ser uma nação justa, com bem-estar social. Ao menos 125 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar, ou seja, não sabem se terão recursos para levar comida à mesa. Outros 33 milhões estão na miséria absoluta, crianças indígenas morrem de fome e o número de feminicídios e de assassinatos de integrantes da comunidade LGBTQIA não para de aumentar. Como não carregar o sonho de migrar a fim de deixar essas tragédias para trás?
É imperioso reconstruir o Brasil e dar esperança, sobretudo, aos mais pobres. Em vez de exportar seus cidadãos, o país precisa retê-los e prepará-los para os desafios que estão colocados. O mercado de trabalho será cada vez mais exigente na formação dos profissionais — cérebros são disputados mundo afora. O poder público precisa assumir suas responsabilidades e fazer com que a economia se reencontre com o crescimento. Não há atalhos. É questão de compromisso e de bom senso.
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