EDITORIAL

Visão do Correio: Panorama do câncer infantojuvenil

Um tema pouco difundido no Brasil é a incidência de câncer infantojuvenil, aquele que acomete menores de 15 anos. A campanha integra o Fevereiro Laranja, que também reforça o Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantil, na próxima quarta-feira (15/2).

Não bastasse a desigualdade entre os estados brasileiros no número de pediatras espalhados pelo país — ao todo, são cerca de 290 mil especialistas, dos quais 55% somente na Região Sudeste, 16% no Nordeste, 16% no Sul, 9% no Centro-Oeste e apenas em torno de 4% de profissionais da Região Norte —, a doença tem algumas peculiaridades.

Diferentemente de outros tipos de tumores, que se destacam por sintomas e sinais clássicos da doença, a exemplo de manchas roxas, empalidecimento, gânglios aumentados ou fadiga, nem sempre essas manifestações estão presentes no câncer infantojuvenil.

Os números sugerem que as leucemias agudas, consideradas as mais comuns nessa faixa etária, representam cerca de 25% dos diagnósticos de câncer registrados na infância e na adolescência. Os dados são do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc). Somente as leucemias (que afetam as células do sangue) são responsáveis por 11.540 novos casos a cada ano no Brasil e são o 10º tipo de câncer mais frequente entre a população brasileira, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), é fundamental o diagnóstico precoce, com destaque para subtipos como a leucemia linfoide aguda (LLA), leucemia mieloide aguda (LMA) e leucemia mieloide crônica (LMC). No entanto, a apresentação clínica dos subtipos é heterogênea, o que dificulta o diagnóstico do câncer ainda no início. Dores nas articulações ou lesões na pele de bebês com menos de um ano de vida tornam-se sinais de alerta.

Quando diagnosticada precocemente e se for adequadamente tratada, a leucemia apresenta boas chances de cura — que giram em torno de 85% (no caso da LLA) e entre 60% e 70% (no caso da LMA). Mas, infelizmente, esses dados referem-se aos tratamentos em hospitais de países desenvolvidos. No Brasil, estamos distantes dessa realidade, mesmo diante de avanços tecnológicos.

Além de conscientizar sobre os sinais de alerta e diagnóstico precoce dos tumores, o marco do Fevereiro Laranja é também uma oportunidade para celebrar importantes avanços nos protocolos de tratamento, com inovações relevantes que têm revolucionado a oncologia em suas várias áreas.

Na linha de frente, terapias celulares e imunoterapia, responsáveis por melhorar a qualidade de vida dos pacientes, atuando eficazmente no sistema de defesa, e aumentando assim a sobrevida, se unem a tratamentos como radioterapia, quimioterapia e procedimentos cirúrgicos. No caso da imunoterapia, o tratamento torna-se altamente personalizado, específico para tratar as células doentes, as mutações, sem atacar as células sadias.

Por enquanto, o Brasil ainda dá os primeiros passos em torno de um atendimento digno aos pacientes oncológicos diante da dicotomia entre rede pública e rede privada de saúde. A caminhada é longa.

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