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Artigo: O endividamento das famílias e empresas no DF

ANDREA CABELLO - Professora e pesquisadora do ObservaDF

Os últimos anos foram bastante difíceis para a economia mundial e brasileira devido ao advento da pandemia da covid-19. Esses anos presenciaram o aumento da taxa de desemprego, a falência de negócios, queda da renda e aumento da inflação provocada pela interrupção de cadeias de produção, o que levou o mundo a severa crise econômica. Esses fatores não pouparam o Distrito Federal. Um dos efeitos dessa crise econômica se deu sobre o endividamento das famílias e empresas, já que o crédito é uma forma de suavizar variações de renda no tempo e de realizar planejamento para compras futuras.

O Distrito Federal apresenta uma estrutura produtiva um pouco diferente das demais unidades da Federação, com a predominância de um setor de serviços (deve-se lembrar que mais de 90% de suas atividades produtivas concentram-se nesse setor), pouca participação de setor agropecuário e um percentual relativamente alto de servidores públicos — ou seja, pessoas com renda estável mesmo em períodos de crise. Isso significa que o padrão de endividamento aqui também é diferente, com menor importância de endividamento voltado para setores com pouca participação local, como setor agropecuário, conforme mostra pesquisa realizada pelo Observatório de Políticas Públicas do Distrito Federal, o ObservaDF.

Atualmente, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), o percentual de famílias endividadas no país aproxima-se de 80% e 30% da renda das famílias é comprometida com dívidas. Além disso, cerca de 30% das famílias têm dívidas em atraso e aproximadamente 10% não terão condições de pagar essas dívidas em atraso. Isso sugere que, no país, a renda e as despesas mensais são fortemente comprometidas por um processo de endividamento.

De um modo geral, em relação ao endividamento das famílias do Distrito Federal, a pandemia provocou efeitos principalmente em endividamentos de curto prazo, permitindo maior estabilidade para os mecanismos de longo prazo, como, por exemplo, o crédito habitacional.

Observou-se, por exemplo, que a existência de vínculos empregatícios mais estáveis no DF permite que suas famílias façam uso de mecanismos de endividamento com custos menores, como o crédito habitacional e o empréstimo com consignação em folha, já que esses tipos de endividamento predominam entre as dívidas das famílias. Além disso, parece haver também um caráter pró-cíclico para o endividamento via cartão de crédito, voltado para despesas do dia a dia.

Em outras palavras, quando as taxas de desemprego e demais indicadores macroeconômicos da economia vão mal, o valor da carteira de endividamento em cartão de crédito tende a se reduzir. Assim como o padrão de endividamento das famílias é influenciado pela estrutura produtiva do Distrito Federal, o padrão de endividamento de suas empresas também é. Os dados mostram uma importância relativa muito maior para financiamentos de médio e longo prazos para as empresas do Distrito Federal, o que inclui, principalmente, o financiamento de infraestrutura, desenvolvimento/projeto e outros créditos. Já o capital de giro, voltado para o financiamento de curto prazo, tem uma participação menor entre o endividamento das empresas no Distrito Federal do que nas demais unidades federativas do país.

Ainda do ponto de vista do endividamento das empresas, observou-se uma tendência ao aumento do endividamento após a pandemia da covid-19, já que empresas precisaram utilizar mecanismos de crédito para suavizar os impactos da crise. Isso pode ser preocupante, considerando o aumento recente do custo do crédito no país, com a elevação das taxas de juros da economia pelo Banco Central.

A Sondagem da Indústria da Construção, realizada pelo Sistema Fibra no Distrito Federal, tem mostrado uma grande preocupação com o aumento de custos, com a falta de financiamento a longo prazo e capital de giro e com as elevadas taxas de juros. Dessa forma, é importante a atenção para esse aumento de custo de endividamento e seu efeito sobre a retomada das atividades produtivas, de modo que ele não dificulte ainda mais esse desempenho.

 

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