Por José Natal - Jornalista
Difícil para qualquer cristão questionar os desígnios de Deus. Nos resta o lamento, a dor e o profundo inconformismo diante da fatalidade. Difícil resistir a vontade de se manifestar, falar alguma coisa sobre essa mulher, essa profissional, personagem que nos deixa em vida, mas perpetua um exemplo de como proceder, atuar e vivenciar com a mais impetuosa dedicação à aquilo que adotou como profissão.
A presença inconfundível de Glória Maria na tela da TV, durante algumas décadas, pode ser vista como divisor de época, marco histórico de aceitação da mulher negra no jornalismo televisivo. Para os mais jovens, talvez esse registro não diga muita coisa.
Mas para a sociedade esclarecida, para os que têm mais de trinta ou quarenta anos, os pés no chão e cabeça ativa, esses sabem bem o que isso representa. O Brasil racista de hoje ainda sinaliza cenas explicitas de muita revolta, e inconformismo.
Contudo, se hoje esse fato incomoda, imagine há 40 anos ou mais? O Brasil racista era repugnante, destruidor, eu diria. E contra esse Brasil, Glória Maria criou tipos, estilos e formas diferentes de atuar, entrevistar e apresentar programas na maior emissora do País, impondo seu modo de agir, de ser Glória.
Determinada e criativa, Glória Maria talvez tenha sido a jornalista brasileira que mais viajou mundo afora, fazendo para a TV mais de uma centena de reportagens para seus diferentes telejornais e programas especiais.
Se orgulhava de mostrar o amontoado de passaportes já utilizados. Entrevistou reis e rainhas, atletas, artistas, mendigos, políticos, homens maus e homens bons, sempre com um estilo próprio e único de fazer Tv.
Do legado de Glória Maria talvez a glória maior seja essa de abrir as portas as centenas de jornalistas negras hoje espalhadas pelo Brasil, que nunca esquecem de creditar a ela essa bandeira, com relevância.
Quem com ela conviveu, de perto ou pelas circunstancia de trabalho - como eu - vai se lembrar sempre de seus gestos de ousadia, determinação, insistência e estilo.
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