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Artigo: Alegria que contagia

  Carnaval de São Paulo -A reveller of the Aguia de Ouro samba school performs during the second night of carnival at the Sambadrome, in Sao Paulo, Brazil, on February 19, 2023. (Photo by Miguel SCHINCARIOL / AFP)
      Caption  -  (crédito:  AFP)
Carnaval de São Paulo -A reveller of the Aguia de Ouro samba school performs during the second night of carnival at the Sambadrome, in Sao Paulo, Brazil, on February 19, 2023. (Photo by Miguel SCHINCARIOL / AFP) Caption - (crédito: AFP)
postado em 21/02/2023 06:00

Se tem algo que é peculiar ao brasileiro é a alegria e, como consequência dela, vem a capacidade de festejar sempre que existe uma brecha. Essa nossa característica é como uma marca registrada. Quando saímos do país, rapidamente somos identificados mundo afora. O Brasil é associado, quase sempre, ao futebol, ao samba e ao carnaval. E, neste último, pode-se abrir alas, que a gente vai passar com um carro alegórico suntuoso e um trio elétrico puxando uma multidão.

É fevereiro de 2023 e, pela primeira vez desde aquele fatídico mesmo mês de 2020, o território nacional está tomado pelo clima da folia. De norte a sul, do Oiapoque ao Chuí, é raro um único município que não tenha entrado na vibração carnavalesca. Entre blocos de rua dos mais diversos, trios elétricos estelares e desfiles de escolas de samba apoteóticos, existem os pontos tradicionais que respiram os festejos de Momo há décadas, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, e outros que entraram no circuito principal dos melhores destinos para se curtir esta época do ano, como Belo Horizonte e São Paulo. Mas ninguém pode dizer que Brasília fica atrás. Em fase de consolidação quando surgiu a pandemia, o carnaval do quadradinho retomou, este ano, em grande estilo. 

Sem pandemia, as máscaras de proteção caíram, devolvendo hegemonia às máscaras das fantasias, aquelas que, mesmo cobrindo parte do rosto, deixam o sorriso à mostra. E já repararam que o sorriso agora parece ser ainda mais contagiante? É saboroso demais sair às ruas e encontrar pessoas — de todas as idades — vestidas a caráter, celebrando a vida, andando em grupos, falando alto, trocando abraços e beijos. É como se uma nova forma de contágio estivesse tomando conta do país. O vírus da felicidade está no ar, trazendo uma sensação febril gostosa, de calor humano, de desejo, e uma sede incontrolável de viver.

É a festa mais popular e democrática do planeta. É quando o povo toma posse da cidade, em torno de uma celebração aberta, irrestrita, desbloqueada. Libera-se a fantasia, pinta-se o corpo, orna-se o cabelo, assume-se uma nova identidade provisoriamente. Os super-heróis convivem pacificamente com os piores vilões do seu universo. Homens se montam como mulheres e, deles, elas se apropriam do bigode, do jeito de andar, da voz mais grave. Crianças mergulham no mundo paralelo dos contos de fadas e as princesas da Disney e os Shreks se encontram para, assim como os adultos, dar vida à ilusão e garantir a diversão.

Da sacada do apartamento, a senhorinha lúcida, sem tanta energia para encarar a folia, observa o mar de gente que passa por ali. E sorri, recordando o seu tempo de mocidade em que as marchinhas eram o padrão; com olhar lacrimejante, sem tristeza, ela se emociona por constatar que a vida está sempre em movimento.

E é assim que deve ser. Na Quarta-feira de Cinzas, a gente renasce como fênix. Fica a ressaca, aquela melancolia do pós-festa se instala, mas logo a gente se liga: ano que vem tem mais!

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