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EDITORIAL

Visão do Correio: A negligência por trás da tragédia

Foto aérea mostra prédios de Antakya, cidade atingida pelo terremoto que deixou ao menos 33 mil mortos na Turquia e na Síria -  (crédito: Hassan Ayadi/ AFP)
Foto aérea mostra prédios de Antakya, cidade atingida pelo terremoto que deixou ao menos 33 mil mortos na Turquia e na Síria - (crédito: Hassan Ayadi/ AFP)
postado em 14/02/2023 06:00

A destruição provocada pelo terremoto que atingiu a Turquia e Síria, com mais de 33 mil mortes, deixa muitas lições. Uma das mais importantes, a necessidade de prevenção. Não é possível que, com tantos avanços na tecnologia, governos sejam incapazes de se anteciparem aos fatos. Mais: o que se percebeu, ao longo dos últimos — e terríveis dias — foi que as cidades, no geral, não estão preparadas para enfrentar desastres naturais. Quando acontecem, só resta a dor de contar os mortos. Até quando veremos situações dramáticas, como um bebê e uma mãe ainda ligados pelo cordão umbilical soterrados, ou um pai desolado segurando a mão da filha morta debaixo dos escombros?

No Brasil, nos últimos dias, numa proporção mínima perto do que se vê na Turquia e na Síria, o descaso das autoridades em relação à população se mostrou presente mais uma vez com as fortes chuvas que caíram em diferentes regiões. No estado do Rio de Janeiro, várias cidades ficaram alagadas, pessoas morreram. As imagens captadas pelas câmaras de tevê mostraram que problemas de escoamento existentes nos anos de 1980 permanecem intocados. Falou-se tanto que houve investimentos maciços na construção de piscinões para receber o excesso de água, mas a verdade foi que ônibus e carros boiavam, assim como caçambas de lixo.

Entra ano, sai ano, o Brasil dá demonstrações de que continua com os dois pés atolados no atraso quando o assunto é infraestrutura urbana. Por omissão do Estado, as cidades cresceram desordenadamente, áreas de riscos foram sendo ocupadas sem qualquer reprimenda, a ponto de uma menina de quatro anos morrer após o desabamento da casa que a família dela havia comprado quatro dias antes. Onde estão os governantes que não se preocupam em proteger a população, sobretudo a mais carente? Essa parcela da sociedade só se torna visível às vésperas de eleições. Por ser gigantesca, pode definir os resultados das urnas.

Por tudo o que os brasileiros veem há décadas e pela recente tragédia na Turquia e na Síria — país devastado por uma guerra que não acaba —, os governos devem ter a exata noção de que eventos extremos serão cada vez mais frequentes. As mudanças climáticas provocarão todo tipo de intempéries que exigirão atenção redobrada. Nem mesmo os países mais preparados para lidar com adversidades, como Japão e Alemanha, estão preparados o suficiente para os novos tempos. Desastres irão se suceder. O resultado deles caberá aos agentes incumbidos de garantir o bem-estar de quem paga os seus salários.

Enquanto o mundo se prepara para pagar a fatura cobrada pela natureza, é importante uma ação global urgente para ajudar os sobreviventes da catástrofe turca e síria. Os governos locais — autocratas — quase nada fizeram para amenizar a dor das perdas e garantir que, a partir de agora, todos possam reconstruir suas vidas com maior dignidade e esperança. O risco de que tudo continue como está é grande, pior, com redução nas liberdades já restritas dos cidadãos dos dois países. Sempre há espaço para piorar as coisas, e são sempre os mais vulneráveis que arcam com a maior parcela da conta.

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