Valdir Oliveira - Ex-Secretario de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal
Benito Mussolini, líder do movimento fascista italiano no início do século passado, criou um grupo paramilitar conhecido como camisas negras. Esse grupo era formado por ex-militares e latifundiários e foi apoiado pela poderosa Confederação da Indústria Italiana. O objetivo dessa milícia era agir com violência contra comunistas, grevistas, intelectuais, camponeses, homossexuais, os quais eram, por eles, considerados inimigos do regime fascista. Esse movimento foi criado em contraponto à ofensiva comunista, na Revolução Russa de 1917. Assim surgiu o extremismo da direita fascista Italiana. A elite capitalista atraiu a imigração de camponeses que abandonavam a agricultura buscando novas oportunidades na cidade. Essa migração levou ao crescimento do desemprego e problemas sociais, fortalecendo o discurso da esquerda italiana nas conquistas políticas da época.
Apesar do crescimento eleitoral da esquerda, o movimento fascista assumiu o poder, apoiado pela monarquia italiana à época. Em 1921, Mussolini criou o Partido Nacionalista Fascista. Em 1922, Mussolini é escolhido para ser o primeiro ministro italiano, apesar de seu partido ter apenas 35 dos 535 deputados. A conhecida Marcha sobre Roma levou dezenas de milhares de fascistas italianos a pressionar a monarquia a escolher Benito Mussolini como primeiro-ministro.
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Foi a violência a grande arma utilizada pelos fascistas para assumir o poder. O manifesto à doutrina fascista, publicado em 1932, traz a célebre frase "o fascismo repudia, assim, a doutrina do pacifismo, nascida de uma renúncia à luta e de um ato de covardia diante do sacrifício". Era a violência a grande arma dos fascistas em suas lutas. Com o discurso anticomunista, poucos anos depois, Mussolini levou a Itália ao totalitarismo. O fascismo leva à autocracia, nunca à democracia.
Concomitante à ascensão fascista, nascia, no Brasil, o Movimento integralista liderado pelo jornalista Plinio Salgado. A Ação Integralista Brasileira (AIB) era a versão brasileira do movimento fascista italiano. Seu lema era "Deus, Pátria e Família" e sua cor era o verde, identificado com a nossa bandeira. Com a narrativa de combate ao comunismo e veneração a símbolos ultranacionalistas, o movimento cresceu, ocupando espaço político na época. Com o falecimento de Plínio Salgado nos anos 1970, o movimento integralista, que já vinha em declínio, ressente de lideranças e referências e se dissolve, mas não morre, adormece.
Com o crescimento da esquerda brasileira no período conhecido como Nova República, após o final do governo militar, surge a oportunidade para que um movimento fascista conservador ressurja no Brasil. Em 2011, despertado por redes sociais, começa a ganhar força nas ruas um sentimento de repulsa à esquerda pelas notícias de corrupção sistêmica em governos liderados por partidos progressistas. O impeachment de uma presidente em 2016 faz explodir o sentimento de rejeição a esses governos, abrindo o espaço para o fortalecimento do conservadorismo fascista, o Neofascismo brasileiro. As cores verde e amarela, o lema Deus, Pátria e Família e a violência no enfrentamento foram as marcas do neofascismo brasileiro que culminou na tentativa de golpe do último dia 8 de janeiro em Brasília.
Um movimento gestado por um novo perfil de terroristas no Brasil, o terrorista home-office, influenciadores digitais que manipulam informações para a grande massa, visando ao desgaste das instituições e ao descrédito de seus representantes. Com as apurações em curso, estamos descobrindo criminosos condenados envolvidos no quebra-quebra da praça dos Três Poderes, que vindos de vários lugares do país, foram financiados e infiltrados para fazer parte do grupo que se autodenominou patriotas. A mesma narrativa dos camisas negras de Mussolini.
A semelhança nesse caso não é mera coincidência. O fascismo nunca acabou. Apenas se ajustou à nova realidade e se enraizou na sociedade brasileira. Assim está o Brasil. Os canais digitais passaram a ser instrumentos de manipulação com inteligência artificial, convencendo muitos a seguir para uma luta de interesse de alguns. A eleição acabou, mas o fascismo continua firme e forte na sociedade brasileira. O Brasil continua em guerra.
Serão anos difíceis, quando a intolerância será a pauta das relações. Evitar o conflito pode ser deixar que o fascismo, fruto da manipulação, se fortaleça e tome conta do Brasil. Resistir pode ser aumentar o que nos divide. Estamos em uma encruzilhada, onde o conflito parece ser inevitável. Se a guerra está nos canais digitais, que possamos usar as palavras como arma e evitar o sangue derramado, já que a batalha em curso não chegou ao fim. Que Deus abençoe o Brasil e os brasileiros.
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