Fake news

Artigo: Combate à desinformação sobre alimentos é o prato do dia

JOÃO DORNELLAS - Presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia)

Fake news estão por todos os lados, e os alimentos não estão imunes, ao contrário: são terreno fértil para notícias falsas, meias verdades e muita desinformação. Convivemos diariamente com notícias sobre alimentos que engordam ou que emagrecem, que adoecem ou que curam, que intoxicam ou que desintoxicam, entre infinitas variações do gênero.

Para os alimentos industrializados é ainda pior. Existe — é fato — um desconhecimento da maioria da população sobre como é a produção de alimentos dentro de uma fábrica. Some-se a isso a dificuldade de compreensão de termos técnicos e científicos.

O processamento ajuda a tornar os alimentos seguros para consumo, preservando ao máximo suas qualidades nutricionais e sensoriais. Alguns métodos podem até mesmo melhorar a qualidade nutricional ou fazer com que ela não diminua ao longo do tempo de validade do produto.

Queremos contar como o cozinhar na indústria é muito semelhante ao cozinhar em casa: o que muda são as quantidades, a tecnologia — de ingredientes, processos e equipamentos — o controle sanitário e aplicação das boas práticas de fabricação, além da eficiência na utilização de recursos como água, energia e insumos. Tudo, dentro da fábrica, é rigorosamente calculado, checado, testado e controlado o tempo todo.

As condições de processamento estabelecidas para cada alimento têm a finalidade de eliminar todos os micro-organismos patogênicos e a maior parte dos que possam causar deterioração. Os processos utilizados são baseados nos princípios de conservação — uso de calor, frio, remoção de água e acidificação — justamente para garantir a segurança dos consumidores. A humanidade processa alimentos desde a descoberta e o domínio do fogo (2,5 milhões de anos a.C.): processar é evoluir.

As indústrias brasileiras produzem 250 milhões de toneladas de alimentos por ano, e 74% desse total é para o abastecimento do mercado interno. Mais de 88% das vendas da indústria são de alimentos do dia a dia, como as proteínas (carnes e ovos), os cereais, chá e café, laticínios e derivados do trigo (massas e pães).

Quanto às fake news, estamos atentos. Vamos atuar permanentemente para esclarecer que os alimentos industrializados são seguros, saudáveis, nutritivos e possuem os mais variados perfis nutricionais. Que nenhum alimento, sozinho, tem o poder de engordar ou causar doenças crônicas, que os aditivos alimentares são seguros e aprovados para o consumo. Para isso, criamos a plataforma temcomidatemverdade.com.br, que reúne conteúdo com referências técnicas e científicas.

Precisamos, cada vez mais, explicar para as pessoas que a qualidade de um alimento é definida por sua composição nutricional, não pela quantidade de ingredientes ou pelo número de etapas do seu processamento. Tampouco por nomes científicos na lista de ingredientes, que constam dessa forma por exigências regulatórias e internacionais.

Trabalhamos com responsabilidade e respeito aos consumidores. Caso contrário, não seríamos o maior exportador de alimentos industrializados do mundo. Os produtos fabricados no Brasil chegam a todos os continentes e atendem a 190 legislações sanitárias diferentes, além de incontáveis padrões privados de segurança e qualidade.

Nosso objetivo é dar mais voz à ciência e à tecnologia de alimentos, áreas muitas vezes excluídas dos debates sobre alimentação, onde reinam especialistas de lifestyle doutorados pelas redes sociais. O nosso compromisso vai além de investir pesado em inovação e segurança. Fazemos comida de verdade, para gente de verdade. E o maior desafio do mundo é fazer o alimento chegar a todas as pessoas.

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