POLÍTICA

Artigo: O Brasil está de volta

"No último domingo, a expressão dos 18 chefes de Estado que vieram a Brasília era de alívio. E o sentimento refletido pela imprensa mundial era de que o Brasil começava a corrigir os rumos de sua política externa"

A capa da edição de segunda-feira do The New York Times, no dia seguinte à posse de Luiz Inácio Lula da Silva, foi simbólica, sintomática e histórica. Ao estampar a foto do presidente subindo a rampa, acompanhado da primeira-dama e de oito representantes da diversidade da sociedade civil, um dos principais jornais do mundo dimensionou a importância daquele momento para a comunidade internacional, alijada de um bom relacionamento com o Brasil nos últimos quatro anos.

O governo passado atrelou a política externa à ideologia ultraconservadora. Afastou-se de países de esquerda e chegou a ofender, por várias vezes, a China. Acusou o principal parceiro comercial do Brasil de usar uma guerra biológica para impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB). Declarações do filho do ex-presidente causaram uma crise diplomática entre Pequim e Brasília, e forçaram a interrupção do fornecimento de vacinas para o Brasil. Mas também houve palavras desmedidas e gafes contra os líderes da França e da Argentina, além da tentativa de usar a Assembleia Geral da ONU e o funeral da rainha Elizabeth II como palanques eleitorais

No último domingo, a expressão dos 18 chefes de Estado que vieram a Brasília era de alívio. E o sentimento refletido pela imprensa mundial era de que o Brasil começava a corrigir os rumos de sua política externa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez deferências a Guiné-Bissau e a Cabo Verde, ao receber os líderes dos dois países. Recebeu os presidentes de nações vizinhas, como Argentina, Colômbia, Chile, Equador e Uruguai entre sorrisos e com a promessa de revigorar o processo de integração da América do Sul e injetar novo ânimo no Mercosul. Também houve demonstrações de entusiasmo por parte dos Estados Unidos, que enviou uma delegação oficial a Brasília, da França e do Reino Unido. Portugal e Espanha estiveram representados nas figuras respectivas do presidente Marcelo Rebelo de Sousa e do Rei Felipe VI.

O presidente Lula prometeu viajar nos próximos dias para recuperar a imagem desgastada do Brasil no exterior. Um engajamento diplomático robusto pode atrair mais investimentos no país, aquecer a economia e impulsionar o progresso. Parcerias comerciais são essenciais para assegurar o superávit e movimentar o dinheiro na economia. O Brasil não pode, nem deve, isolar-se para o mundo. Precisa manter boas relações com todas as demais nações, independentemente de viés ideológico. A julgar pelas reações da imprensa internacional e de lideranças estrangeiras que estiveram em Brasília ou que se pronunciaram de alguma forma, o Brasil está de volta. Ainda bem. Ganhamos todos nós.

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