Opinião

Visão do Correio: Brasileiros querem resultados rápidos

A sociedade está cansada de colher frustrações. O governo que acaba de assumir precisa mostrar, com urgência, que realmente está empenhado em atender aos anseios da população

Boa parte dos ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse ontem. Nos discursos de chefes de pastas como Fazenda, Saúde, Educação e Casa Civil, ficou claro o tamanho dos desafios que estão colocados e a visão de que o tempo para apresentar resultados é curto. Há, na população, uma expectativa enorme de que suas demandas sejam atendidas com rapidez. Se a nova administração, que tem como lema "união e reconstrução", demorar para sair do discurso para a prática, a popularidade do atual ocupante do Palácio do Planalto tenderá a diminuir, minando possíveis negociações para a aprovação de projetos que exigem amplo apoio na Câmara e no Senado, como a reforma tributária.

Os compromissos assumidos são muitos. Na Fazenda, o titular, Fernando Haddad, se comprometeu a combater inflação, o pior imposto para os mais pobres, e abrir caminho para a redução dos juros. Para isso, assegurou que apresentará, ainda neste primeiro semestre, projeto para um novo arcabouço fiscal, que garantirá três condições básicas para o crescimento econômico sustentado, com geração de emprego e renda: transparência, confiança e previsibilidade.

Acrescentou que não sancionará aventuras. Ainda está latente na memória de muitos a nova matriz econômica de Dilma Rousseff, que levou o país à recessão, ao desemprego e ao descontrole de preços, abrindo caminho para o impeachment da petista.

Na Educação, o ministro Camilo Santana alertou sobre a necessidade de zerar o número de crianças de até cinco anos fora do sistema de alfabetização — pelo menos 650 mil estão nesta condição. Prometeu melhorar a qualidade do ensino, pois aumentou em 66% o número de estudantes de 6 e 7 anos que não aprenderam a ler e escrever, e reforçar a merenda escolar, já que, nos últimos anos, por causa do descaso do governo, alunos eram obrigados a dividir um ovo em quatro pedaços.

Sem uma boa educação, em tempo integral, não será possível que as próximas gerações, sobretudo as mais pobres, adentrem o mercado de trabalho, cada vez mais exigente e voltado para a nova economia.

Nomeada para a Saúde, a sanitarista Nísia Trindade afirmou que revogará, nos próximos dias, portarias e normas técnicas que afrontam a ciência, os direitos humanos e os direitos sexuais reprodutivos. A pasta, que trata de um direito básico previsto na Constituição, vinha optando, recentemente, por políticas extremamente conservadoras e pautadas pelo negacionismo.

A ministra destacou, ainda, a necessidade de se voltar todas as atenções para os jovens negros das periferias, que têm sido excluídos do Sistema Único de Saúde (SUS) por falta de visão governamental. "A doença no Brasil tem cor, fruto do racismo estrutural", assinalou, comprometendo-se, também, a trabalhar em parceria com a sociedade civil.

O ministro Rui Costa, da Casa Civil, cobrou agilidade de todos os colegas do governo para entregar o quanto antes o que foi prometido por Lula. Disse que um de seus focos será a retomada de obras paradas, cujo número real ninguém sabe, pois registros foram deletados das estatísticas do governo — os grupos de transição falam em 14 mil empreendimentos.

Uma das prioridades será o término de imóveis que fazem parte do programa Minha Casa Minha Vida. Há imóveis prontos desde o governo de Dilma, mas que não foram entregues porque não houve preocupação das administrações seguintes de construírem acessos às moradias.

Promessas fazem parte de todos projetos políticos. Contudo, a sociedade está cansada de colher frustrações. O governo que acaba de assumir precisa mostrar, com urgência, que realmente está empenhado em atender aos anseios da população, sempre com toda a responsabilidade possível para que as alardeadas heranças malditas não se multipliquem.

É muito fácil jogar a culpa do fracasso no colo de adversários. Os eleitores, porém, estão vacinados em relação a essa estratégia ultrapassada. A hora é de falar menos e agir mais. Como disse Lula em seu discurso de posse: o Brasil tem pressa. Portanto, ao trabalho.

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