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Política

Visão do Correio: Meta é o controle da inflação

 Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva, speaks after signing a bill recognising community health agents and agents fighting endemic diseases as health professionals, with regulated professions, at an event at the Palacio do Planalto, in Brasilia, on January 20, 2023. (Photo by DOUGLAS MAGNO / AFP)
       -  (crédito: DOUGLAS MAGNO / AFP)
Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva, speaks after signing a bill recognising community health agents and agents fighting endemic diseases as health professionals, with regulated professions, at an event at the Palacio do Planalto, in Brasilia, on January 20, 2023. (Photo by DOUGLAS MAGNO / AFP) - (crédito: DOUGLAS MAGNO / AFP)
postado em 22/01/2023 06:00

É compreensível a angústia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ante os juros altíssimos praticados no Brasil, de 13,75% ao ano. Mas é importante deixar claro que essa taxa não é consequência das metas de inflação, cada vez mais baixas, definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e perseguidas pelo Banco Central. O custo básico do dinheiro atingiu tal patamar por causa da má gestão da economia no governo de Jair Bolsonaro, que fez um estrago na área fiscal para tentar se reeleger, e pode permanecer nesse nível por um tempo prolongado ou mesmo subir, se a atual administração insistir nos erros e não fizer o dever de casa. Juros não caem por meio de bravata. E tentar derrubá-los à força custa caro, muito caro.

Se a ideia é fazer com que o Brasil volte a ter juros civilizados — a taxa básica (Selic) chegou a 2% ao ano recentemente —, o melhor que o presidente tem a fazer é buscar o equilíbrio das contas públicas para reduzir a necessidade de financiamento da dívida pública. Quanto mais o Tesouro Nacional precisa recorrer ao mercado em busca de recursos para cobrir rombos de caixa, mais os investidores pedem para comprar títulos federais. É do jogo. O único caminho para sair dessa armadilha é a responsabilidade fiscal, não a conveniente mudança de metas de inflação. O Banco Central, que é independente, reforçou sua disposição em dar início a um ciclo de corte da Selic ainda neste ano, porém precisa da garantia de que gastos descontrolados não funcionarão como combustíveis ao custo de vida.

As previsões de inflação para este ano estão encostando nos 6%, bem acima da meta de 3,25%, que pode oscilar 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Há dois anos, o BC não tem conseguido cumprir sua missão, o que aumenta a ansiedade dos agentes econômicos. Quando a desconfiança impera, as expectativas se deterioram e os custos para levar a inflação para a meta aumentam. Esse filme se repetiu nos últimos anos por diversas vezes. Persistir no erro é irresponsabilidade, especialmente porque a fatura, como sempre, recai sobre a população mais pobre, que perde duas vezes. Primeiro, por não ter como se proteger da carestia. Segundo, porque compra a prazo, ou seja, paga juros elevadíssimos.

Lula tomou posse há três semanas. Portanto, independentemente de toda a confusão política na qual o país está mergulhado, houve tempo suficiente para alinhar o discurso na área econômica. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, tentam mostrar que estão na mesma sintonia. E o presidente da República deveria evitar ruídos desnecessários, que acabam por empurrar os preços do dólar para cima, e, por tabela, contaminam a inflação. É o efeito contrário do que se deseja no governo e do que quer o Banco Central para dar um alívio monetário.

Por todo o seu histórico, o Brasil tem o dever de sempre buscar a inflação mais baixa possível. Uma taxa próxima de 3% ao ano deixa o país mais parecido com as nações desenvolvidas, que, neste momento, sofrem com os altos custos de vida, reflexo da pandemia do novo coronavírus e da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Contudo, todas as projeções indicam que os índices inflacionários retornarão aos níveis históricos ainda em 2023, sem recorrer a estripulias ou arranjos que levem à desconfiança de empresários e consumidores.

Os próximos dias serão cruciais para o governo retirar esse debate de cena. O discurso tem de se centrar no novo arcabouço fiscal, nas medidas para incentivar o crescimento e a geração de empregos e em reformas adiadas há tanto tempo, como a tributária. É isso o que quer a população, que precisa recuperar a confiança no futuro. Chega de frustrações.

 


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