Visão do Correio: Celebração à vida

Silhouette of people happy time felicidade vida celebração comemoração - (crédito: Reprodução/Freepik)

Correio Braziliense

postado em 21/01/2023 06:00

"Lutar sempre. Vencer às vezes. Desistir jamais." O texto circula pelas estradas brasileiras no para-choque traseiro de um caminhão. Ele traduz a importância de ir em frente, enfrentar os desafios e superá-los. Seja qual for o resultado do combate, terá valido a pena. A alternativa é a imobilidade, a estagnação, a morte.

O raciocínio veio à tona a propósito do livro Desafios 2, uma celebração da ciência a favor da vida. Publicada pelo Hospital Israelita Albert Einstein, a obra comemora os 35 anos de transplante de medula óssea realizados no hospital paulista.

Trata-se de 35 depoimentos de transplantados. São pessoas cuja vida foi posta em xeque quando receberam o diagnóstico de leucemia ou outra enfermidade grave que exige o transplante de medula óssea. O que fazer? A decisão fica nas mãos do paciente. O médico fala de adulto para adulto. Explica com calma os passos do procedimento.

Poucas décadas atrás, a comprovação da doença representava sentença de morte. Mas, graças aos investimentos em pesquisa e aos consequentes progressos da ciência, o enredo mudou. São capítulos de avanços que salvam vidas — transplante com medula congelada do próprio paciente, transplante de células de cordão umbilical não aparentado, transplante para tratamento de doenças autoimunes, transplante haploidêntico com técnica de irradiação total da medula. 

Dados recentes do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam que, em 2020, houve 10.082 novos casos de brasileiros com leucemia. Em 2022, segundo o Inca, o número deve se repetir. Essas pessoas hoje vislumbram luz no fim do túnel. Podem submeter-se à longa e difícil jornada do tratamento até "renascer", como afirmam depoentes que figuram no livro Desafios.

As 35 histórias tratam do mesmo assunto, mas não se repetem. Cada experiência é única como único é o ser humano. Na disputa entre a vida e a morte, o importante é superar cada etapa até o resultado final. É impressionante como a travessia, além de levar à cura, transforma valores e prioridades, levando à determinação de que cada dia é único e singular. A regra é vivê-lo plenamente, privilegiando o que realmente vale a pena.

São lições de vida que inspiram não só as pessoas que precisam enfrentar um transplante ou aos médicos que batalham pela saúde e bem-estar da população. Elas inspiram a todos porque, nas palavras do presidente do Einstein, "são belas histórias de vida, de humanismo e superação".

Ao lê-las, lembramo-nos do velho monge chinês cuja sabedoria é repetida no país asiático. Ele educou muitos jovens. Velhinho, se despediu do derradeiro discípulo que lhe pediu um último conselho. Sem pressa, o mestre pegou um pedaço de papel, escreveu uma frase e a entregou ao rapaz com a recomendação de só a ler num momento extremo, sem saída.

Passaram-se os anos. O homem, já maduro, se perdeu num safári. No meio do descampado, tinha à frente um abismo. Dos demais lados, feras o perseguiam. Lembrou-se então da mensagem do mestre. Abriu-a. Lá estava escrito com letra cuidadosa: "Isto também passa".